segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Currículo nacional ou regional?


O MEC anunciou estar finalizando sua proposta de um currículo para a educação básica. Não há maiores detalhes. A iniciativa é de extrema importância para o País. Mas essa proposta deve passar pelo crivo da opinião pública, e não ser apenas fruto de decisão governamental. O debate é polêmico.

Há os que são contra qualquer tipo de currículo e os que divergem quanto ao escopo do documento. O currículo deve ser nacional ou regional? Todos têm suas razões, mas as razões não têm o mesmo peso e nem as mesmas implicações.

Os que se opõem à existência de um currículo nacional, normalmente, invocam a autonomia da escola, do professor ou de ambos e a necessidade de adaptação do currículo ao aluno. Aqueles que favorecem o viés regional priorizam a descentralização como princípio. Na prática, contudo, não a justificam com critérios consistentes: Rede de ensino?

Município? Estado? Região? Nesse grupo, há os defensores do ensino voltado para a realidade local e os que apenas sinalizam a importância de partir do local para conhecer o universal.

Dificilmente, as teses contrárias a um currículo nacional prevalecerão. Mas os argumentos podem sinalizar a necessidade de flexibilizar ao menos parte do currículo. À exceção de estudos sociais nas séries iniciais, a experiência dos outros países mostra que faz mais sentido dar flexibilidade à escola ou aos alunos, e não a entes intermediários.

Os defensores de um currículo nacional tipicamente apresentam critérios gerenciais ou práticos, tais como facilitar a mobilidade dos alunos, balizar a produção de livros didáticos, sistemas de avaliação ou a formação dos professores.

Também advogam que um mínimo comum é direito dos alunos, dever do poder público e instrumento de promoção de conhecimentos e valores para fortalecer o patrimônio cultural.

Questões técnicas e estratégicas estão no âmago do debate. Foco, rigor e coerência do currículo estão entre as prioridades técnicas. Esta é uma discussão para especialistas. O viés estratégico se refere ao papel do currículo numa proposta de reforma educativa. Se o currículo for o ponto de partida, deve ser feito com base no que é desejável. As outras variáveis, como o nível dos professores, sua formação, desempenho dos alunos, condição das escolas e qualidade dos livros didáticos seriam ajustadas com outras políticas.

Fazer um currículo olhando para o retrovisor seria desastroso. Por outro lado, no mundo globalizado, será muito difícil ignorar os benchmarks internacionais, ou seja, as propostas de currículo de outros países. Essa é uma boa oportunidade para o Brasil refletir, de maneira objetiva, sobre o que significa, num regime federalista, um padrão de qualidade para todos.



JOÃO BATISTA ARAÚJO
DE OLIVEIRA
PRESIDENTE DO INSTITUTO ALFA E BETO

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