quinta-feira, 10 de maio de 2012

Valorização dos professores e progresso


Muitos discursos sobre a docência possuem uma ideologia nefasta. Fala-se, por vezes, que o “professor exerce sua atividade por vocação e doação”. Certamente, cada atividade profissional não pode prescindir de um aspecto vocacional e de dedicação sincera. Isto é válido para os professores como para os médicos, os engenheiros, os advogados etc. Entretanto, quando governantes acentuam o caráter vocacional e quiçá missionário, escondem uma perversa prática: a ausência de planos dignos de carreira profissional e condições adequadas de trabalho.

Não é de desconhecimento a má remuneração dos docentes, sejam nas esferas federal, estadual ou municipal.

Aquele que exerce a docência o faz por vocação, mas os elogios a esta atividade servem para mascarar, sinteticamente, uma ideia: se a atividade docente é uma vocação, uma missão, a remuneração ficaria em segundo plano. Trata-se de um discurso já antigo, ultrapassado, mas ainda muito usado e que deve ser
combatido. As greves dos docentes em diversos Estados pelo piso salarial, pelo cumprimento de lei, são apenas lutas pelo mínimo. Não se trata do teto, mas do piso. Acrescente-se que o piso é pouco, mas muitos governantes relutam em cumprir o determinado.

Se comparada a outras profissões, do ponto de vista da remuneração e do plano de carreira, a docência não é muito atrativa. Sabe-se que muitos alunos do Ensino Médio, considerados bons ou excelentes, que poderiam investir sua formação, por exemplo, em uma licenciatura não o fazem e, entre vários motivos, a remuneração digna é apontada como um diferencial importante. Com isso, os melhores alunos procuram os bacharelados mais bem vistos historicamente. As licenciaturas não se tornam atrativas. Elas são a segunda ou a terceira opção. Ora, se a carreira docente for melhor remunerada, com condições de trabalho adequadas, certamente aumentará o interesse de bons alunos e futuros bons pesquisadores.

O sucateamento da profissão é, igualmente, percebido no ensino superior. Um professor com doutorado recebe menos, por exemplo, que um técnico do Senado, com apenas a graduação. Se a comparação se estender a outras profissões, verifica-se que realmente a remuneração continua muito inferior. Caso não se queira comparar, basta considerar o tempo de formação entre a graduação, mestrado e doutorado e a importância que se tem para uma nação a produção de saber e tecnologia. Quando se fala em autonomia de uma nação, não se pode esquecer dos incentivos que devem ser dados ao profissional que dedica sua massa crítica à produção de tecnologia e isto se faz por excelência nas universidades.

O desenvolvimento de uma nação se efetiva, necessariamente, pela docência em seus diversos níveis. Trata-se de produção de saber em tecnologia e qualificação profissional. Se o Piauí quiser melhorar seus números no que tange à educação, deve tratá-la como a pedra angular de seu desenvolvimento. Enfim, um discurso sedutor e elogiativo aos docentes que não produz uma política proporcional à dignidade da profissão é apenas um sofisma




ALESSANDRO PIMENTA
PROFESSOR DA UFPI

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