domingo, 27 de maio de 2012

A cidade [que] frita, porém poética


Teresina é uma cidade das mais quentes dessas terras brasileiras. Embora tenha sido agraciada por ser uma terra mesopotâmica, o calor que aqui presenciamos é de fritar, quiçá, até um ovo no asfalto quente. É partindo desse ponto que tanto nos chama a atenção para puxar uma conversa, que pretendo falar do livro de Rodrigo M. Leite, ‘a cidade frita’ (em letras minúsculas mesmo!). Rodrigo é um pacato estudante de Letras que, assim como outros, tem grande encanto pela poesia. Todavia seu encanto não é somente por ela, pois o divide com a cidade de Teresina.

Queria eu conhecer um rapaz mais apaixonadoa na sua idade, pela nossa Chapada do Corisco. Grande pesquisador da poesia que tem como temática nossa cidade, como também agora militante de preservação dos pontos históricos da capital.

O livro ‘a cidade frita’ tem como tema central, que já deveríamos saber por essas paixões aqui citadas por mim, nossa linda Teresina. Rodrigo, nas entrelinhas de seu livro, procura fazer um panorama de um teresinense que vive a cidade com intensidade, no entanto, dando destaque às regiões perto do centro da cidade. Observamos isso devido ao mapa presente no livro com os traços quase implacáveis de Saraiva como também a presença dos bairros descritos nos poemas. Não escapam aos olhos do poeta os mínimos detalhes de nossa cidade. As meninas que escapam do balé de Teresina, o prazer de ficar sentado em um banco de praça numa tarde de terça-feira. Tudo isso é constituído como uma fotografia na mente do poeta que depois é revelado em forma de poesia.

Às vezes nos deparamos com pessoas e não damos conta de sua importância. Passamos por elas e nem oferecemos atenção às mesmas, muitas vezes por nos acharmos superiores a elas e também tentando mascarar a realidade social na qual estamos inseridos. Que atire a primeira pedra quem não percebe a degradação dos usuários de crack no centro da capital, a grande quantidade de mendigos e morados de
ruas e aquelas pessoas que trabalham de maneira simples e humilde para obter seu pão de cada dia. O que me chamou atenção em um dos poemas de Rodrigo é que ele conseguiu transformar essa degradação social em uma poesia sui generis. Consegue dar vida àquelas pessoas que andam no anonimato e que mesmo assim não perdem a vontade de viver e sentir nossa cidade.

E no final, “a imprensa no dia seguinte não noticiou o acontecido”.

Eu acredito que as pessoas estão perdendo sua sensibilidade. Não estou aqui defendendo que devemos amar as coisas como se fossem as únicas na vida e muito menos que todos deixem despertar o poeta que vive em cada um de nós. Mas acredito que devemos dar mais importância às coisas que presenciamos. Não precisa ser de maneira profissional e nem artística, mas como simples expectadores do dia a dia. Assim como Rodrigo torna importante os urubus que lançam voos nos céus do Parque Piauí esperando que a dona Maria jogue os pedaços de frango no meio da rua, perceber os espaços de sociabilidade que são os botecos perto do Verdão, ver como é incrível a imagem da moça do outdoor permanecer intacta mesmo com sol e chuva e que a mesma pode estar na sua casa assistindo o comercial que ela fez fazendo as unhas e cabelos. Pensar o quão incrível é você ficar sentado numa praça que tem o nome de Desilusão, mas ficar se iludindo com teorias acadêmicas na Universidade Federal do Piauí e sentir que o calor que aqui reina, embora seja ponto de muita reclamação, é de suma importância para nós, pois quando chove e começa
aquele friozinho todos querem de volta o lindo sol do Equador.

O que o livro ‘a cidade frita’ traz para mim é que devemos dar mais valor ao lugar de onde somos e às nossas origens. Perceber que os lugares mais simples de nossa cidade se tornam espaços incríveis dependendo de sua percepção de mundo e imaginação. Podemos imaginar que até mesmo o Cabeça de Cuia vai lá na Ponte Estaiada num final de tarde ver que aqui temos o pôr do sol mais lindo do Brasil. Resumindo, ‘a cidade frita’ é um livro no qual Rodrigo M. Leite faz seu elogio a Teresina e nos deixa a dica para viver com mais intensidade nossa cidade.




VINICIUS ALVES CARDOSO
ESTUDANTE DE HISTÓRIA

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