quarta-feira, 2 de maio de 2012

Seca e inépcia administrativa


A seca mais grave que se abate sobre o Nordeste nas últimas três décadas deveria suscitar não apenas uma necessária ação emergencial para atender àqueles que carecem do mínimo essencial à vida: água potável. Essa é uma boa oportunidade de se discutir sobre a eficiência e eficácia das políticas de combate aos efeitos da estiagem e de convivência com o semiárido.

Um dos centros desse debate deveria ser o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, uma autarquia centenária que ao longo de mais de um século tem feito bem menos do que dela se espera. No ano passado, essa incapacidade de fazer mostrou-se agravada pela constatação de um prejuízo de R$
312 milhões em contratações irregulares, obras superfaturadas e outras malfeitorias.

Tanto pior que a estiagem em si, um fenômeno climático cíclico, é o mau uso de verbas públicas, seja em ações permanentes, seja na atuação emergencial do Dnocs e outros órgãos da administração pública. É temerário usar números, posto que há escassez de estatísticas confiáveis, mas é lícito se dizer que o Brasil jogou pelo ralo bilhões de reais que deveriam ter sido bem aplicados para evitar que o ciclo de estiagens no Nordeste fosse apenas um inconveniente meteorológico.

Com políticas ruins, projetos piores e fiscalização frouxa, o dinheiro para acabar com os efeitos da seca e criar meios de convivência com a crônica escassez de água no semiárido terminou por irrigar negócios particulares, contas e patrimônios de gente que nunca sofreu na pele os problemas ocasionados pela ausência de chuvas e a pouca ou nenhuma água para sobreviver.

O que se precisa agora é de uma virada de jogo. Esse possivelmente pode ser um grande gol a ser marcado pela presidente Dilma Rousseff: rigor na fiscalização do uso de dinheiro público para obras hídricas emergenciais ou não; exigência de projetos viáveis, que realmente mudem a vida das pessoas no semiárido e, mais que tudo isso, a elaboração de um plano que realmente acabe com a vergonhosa situação do uso de recursos paliativos no sertão do Nordeste, que, todos sabem, sempre servem de pretexto para gente que tem muita sede em botar a mão em recursos públicos.

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