quarta-feira, 16 de maio de 2012

Notícias do Piauhy


Aprovando a velha ortografia a fim de dar título ao livro: “Notícias do Piauhy”, Reginaldo Miranda da Silva (Bertolínia, Piauí, 1964), atual presidente da Academia Piauiense de Letras (data oficial de fundação: 30 de dezembro de 1917), sabe que a História é “narração metódica dos fatos notáveis ocorridos na vida dos povos, em particular, e na vida da humanidade, em geral”. Por isso, protagonizou na nota prévia da obra literária pertencente à historicidade piauiense, a intensa procura de documentos válidos e os extensos comentários do padre Domingos Gomes (Fazenda Torre, Portugal, 1718-Salvador, Bahia, 1780 ?), da Companhia de Jesus, instituição religiosa fundada em 1539 por Santo Inácio de Loyola (Guipùzeva, Espanha, 1491-Roma, Itália, 1556).

Na verdade, o sacerdote lusitano escreveu que no Piauhy de antanho, as fazendas de gado (criação de bovinos) motivaram a fundação das grandes propriedades que se espalharam pelos “sertões de dentro”, alcunha talvez dada por Domingos Sertão, isto é, Domingos Afonso Mafrense (Mafra, Portugal, 1631-Salvador, Bahia, 1711), antes mesmo da expulsão dos jesuítas. Evidentemente, decisão determinada em 1759, em Lisboa, pelo Marquês de Pombal (o poderoso Sebastião José de Carvalho Melo).

Esclarecemos que o Rei de Portugal, período 1714-1777, era D. José I. Em 1750, o monarca deu nome à capitania: São José do Piauhy. E em 1761, o Marquês de Pombal já era conde de Oeiras, tempo do governador João Pereira Caldas (Valença, Portugal, 1720-Lisboa, 1790 ?), receber a incumbência reinol para elevar a antiga Vila da Mocha à condição de cidade. Titulada Oeiras do Piauhy, homenagem àquele “déspota esclarecido” que, de modo absoluto , metia medo nos portugueses. Assim, de 1761 a 1852, Oeiras passou à significação de primeira capital do Piauhy.

O historiador Reginaldo Miranda da Silva, dono duma memória privilegiada, se apossou da perspicácia para, com argúcia, expor os fatos históricos e, consequentemente, narrá-los conforme escritos do padre Domingos Gomes: aqui chegado em 1717. Até retornar, a Salvador, 1739 ou 1740.

O que mais interessou nos relatos do padre Domingos Gomes foram: 1 – Havia no Piauhy, século XVIII, poucos negros escravos. A indiada, em maioria absoluta, era belicosa (Razão das lutas que consideramos genocidas e praticadas pelo sanguinolento João do Rêgo Castello Branco, apelidado “El Matador”).; 2 – As sesmarias e as rendas ali obtidas contestadas pelo fisco real português; 3 – O transporte e a comercialização das boiadas para outros locais do Brasil e, ainda, a presença dos vaqueiros no chamado ciclo econômico cujo principal vetor era o Piauhy, o maior criador de gado bovino; 4 – No trato com os vaqueiros, os grandes fazendeiros instituíram a “civilização do couro” a fim de determinar que o Brasil colonial estava se modificando a par da cana-de-açúcar (monocultura latifundiária escravocrata) fixada no litoral brasileiro e pelo advento do ciclo dos minérios: ouro e prata, período que marcou a transferência da capital da Colônia – de Salvador, Bahia, 1549, século XVI, para o Rio de Janeiro, 1763, século XVIII.

O livro: “Notícias do Piauhy” é valioso. Merecedor de leitura atenta. A tal ponto que o atual presidente da Academia Piauiense de Letras buscou, entre tantas ocorrências, os quatro magníficos versos do poeta sertanejo Hermínio de Carvalho Castello Branco (Chapada da Limpeza, Barras, hoje Esperantina, Piauí, 1851-Rio de Janeiro, 1889), versos que consolidaram a conquista da terra e a árdua colonização: “Nos
sertões onde nasci,/ Na viola temperada/ Cantei a glória passada/ Dos campos do Piauhy”.




CARLOS SAID
JORNALISTA E PROFESSOR

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