quarta-feira, 23 de maio de 2012

A morte dos Guegês


Diante dos “Autos de Devassa da Morte dos Índios Gueguês” (também chamados Gurgueias ou Gorguas que habitavam o vale do rio Gurgueia. Da mesma origem étnica dos Acaroás ou Acroás, considerados seus
tradicionais inimigos), consideramos que foram os primeiros a enfrentar, nos sertões de Parnaguá, os homens da Casa da Torre da Bahia, que pioneiramente, em 1674, penetraram os “Sertões do Piagohy”.

O historiador Reginaldo Miranda da Silva (Bertolínia, Piauí, 1964, atual presidente da Academia Piauiense de Letras: data oficial de fundação: 30 de dezembro de 1917), pesquisou todos os documentos que condicionaram a feitura do seu livro ilustrado por um belo frontispício. Por isso, o assunto é de primordial importância. Subsídio para consolidação da verdade no respeitante ao devassamento da terra que apontou consequências dramáticas para quem já habitava o Piagohy (os índios) no tempo do Governo Geral instalado no Brasil colonial, Salvador, Bahia.

A morte dos índios Gueguês tem capítulos que norteiam os leitores desde os primeiros contatos e confrontos diretos com os poderosos da Casa da Torre, à época com Francisco Dias d´Ávila (sertanista brasileiro, Salvador, Bahia, 1648-1695, trineto de Garcia d´Ávila, sertanista português, fundador da Casa da Torre, nascido e falecido em Salvador, Bahia: 1524-1609), como personagem central das lutas para dizimar os Gueguês. Assim, é necessária a argumentação sobre a qual repousam vestígios importantes da presença desses dois importantes colonizadores nos entranhados sertões do Piagohy (os jesuítas foram testemunhas da presença dos familiares da Casa da Torre na nova terra que era conquistada a ferro e fogo).

Na verdade, a ação criminosa conhecida como devassa (sindicância para apurar ato criminoso) começou com a instauração dolosa do processo contendo sempre que se deveria massacrar os índios tal como vaticinara o Tenente Coronel João do Rêgo Castello Branco (considerava os índios como “bichos que deveriam morrer”), o apelidado “El Matador” na configuração crítica colocada nos versos de H. Dobal (Hindemburgo Dobal Teixeira: Teresina, Piauí, 1927-2008): “De sangue e de fogo/ Se faz um nome./ No sangue e no fogo/ Se desfaz a história/ De muitas vidas./ “A sangue e fogo/ A ferro e fogo/ Um homem liquida seus semelhantes”. Barbárie declarada por João do Rêgo Castello Branco: “que tudo assim mandou fazer, por entender (que) assim o podia”. Evidentemente, prepotência e arrogância do exterminador de gentios, os pagãos daquele tempo difícil.

Os argumentos finais a respeito da absolvição do Tenente Coronel João do Rêgo Castello Branco e do seu filho João do Rêgo Castello Branco, este último flagrado assassino em São João de Sende, 1780 (deu origem ao povoado de Campo Alegre, em Amarante, Piauí, que acabou transformado no município de Arraial do Piauí), deflagrou a vergonha no concernente a matança dos índios, episódio que serviria para aproveitamento da realidade nas terras do Piagohy do século XVIII. Afinal, assunto deprimente que ficou conhecido na historicidade piauiense como “a incrí- vel fama da família Rêgo Castello Branco perpassada para infâmia que o tempo jamais apagará. Já nos anais da fase colonizadora, nada será extirpado da memória dos verdadeiros historiadores .

Na “Nota Prévia” do seu excelente livro de pesquisa, obra prima para consulta imediata e precisa, Reginaldo Miranda da Silva admitiu ter bem situado o período histórico da matança dos Gueguês e, na metodologia utilizada a fim de não perder os mais importantes detalhes da ação criminosa dos dois colonizadores, pai e filho, buscou fidelidade absoluta na documentação microfilmada de propriedade do Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, Portugal.




CARLOS SAID
JORNALISTA E PROFESSOR

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