domingo, 6 de maio de 2012

Professores: a questão da legalidade


O ano letivo ainda não começou na rede estadual de ensino do Piauí. Já estamos em maio, penúltimo mês do semestre. Greve dos professores. Perdem os estudantes. Mas o mais prejudicado é o Estado como um todo, pois amargamos as últimas posições do Brasil quanto ao analfabetismo e ao ensino público. Perde a sociedade como um todo, as gerações futuras colherão os mesmos frutos do atraso que hoje nos serve o passado irresponsável.  

A classe governante não tem uma política para o magistério. Educação não é só construir salas horríveis e tanger as crianças para dentro, como bode para o chiqueiro. Não há interesse na educação, mas na construção. Educação tem sido objeto só de retórica. Mas nunca foi diferente no Brasil. A elite política vive muito gorda com os frutos do analfabetismo. Antes era o empreguismo e a indústria da seca; hoje, o Bolsa
Família e similares rendem fartos dividendos eleitorais. Então, porque educar esse povo? Por que retirá-los das cavernas da ignorância, quebrando-lhes a inocência?  

Os governantes espalham escolas para todo lado. Mas se esquecem dos operários do ensino. Ora, assim é fácil, com professores mal remunerados! Se o salário mínimo fosse de cem reais eu teria cinco empregadas domésticas. O próprio Lula se vangloria de haver aumentado as vagas nas universidades e nas Escolas Técnicas Federais, mas nos seus oito anos, mais o 2º da Dilma, os professores não tiveram sequer  reposição da inflação. Educação sem educadores. Acenam para a plateia com o suor e o sangue dos professores.  

É justo que um profissional do ensino superior ganhe menos do que um motorista das Justiças Federal, Eleitoral e do Trabalho? Pois é o que acontece. Um professor doutor da Ufpi, tempo integral ganha menos do que um oficial de justiça. Os professores da rede estadual e municipal, muito pior. Profissionais de nível superior, até com pós-graduação, tempo integral, por três salários mínimos. Ganham menos do que um
pedreiro, sem qualquer escolaridade. Logo os profissionais que formam os futuros doutores do Pais! Sobretudo, são os formadores dos valores nacionais. Destarte, que valores difunde uma classe maltratada, mal paga, discriminada? Os valores do ódio, do recalque, da frustração, do ressentimento. Resulta nisso que enche as CPIs.  

Está errado!!! Temos que nos indignarmos. Chega de achar normal o absurdo! E, posta a greve para julgamento, com que moral os julgadores vão dizer que é justo um profissional de nível superior aceitar
uma remuneração inferior a de seu carregador de pastas? Ora, são do mesmo nível acadêmico dos julgadores e de seus principais assessores. No entanto, estes impõem-lhes o ferrão da Justiça, só porque
sonham ganhar igual a um motorista oficial dos Tribunais.

Têm razão os professores. De fato, todos os profissionais de nível superior contratados pelo Poder Público a qualquer título ganham mais do que eles. Os obstinados mestres não têm como custear cursos de atualização permanente, de adquirir equipamentos imprescindíveis ao seu mister. Lazer? Nem falar. Seu lazer é corrigir prova na calada da noite, é tentar endireitar alunos que sofrem de distorções de conduta.  

Contudo, o Tribunal de Justiça não pode fazer justiça, cumpre-lhe aplicar a lei. O aparelho judicial não existe para fazer Justiça, mas para aplicar a legislação. Como disse Lao-Tsé há 25 séculos, o Direito é contra a Justiça. No entanto, sejamos socráticos, aceitemos o veneno em nome da ética que pregamos. Voltem ao trabalho em homenagem ao nosso povo abandonado. E continuem a luta. O governo, por sua
vez, seja sincero e benevolente.

Conceda o que pode dar de imediato e instale um foro permanente de diálogo, dentro de uma política séria de valorização do magistério, com previsão de realização. Como está não pode ficar. Urge ação rápida e enérgica e não a passos de formiga e sem vontade, como diz Lulu Santos.




FRANCISCO METON M. DE LIMA
PROFESSOR DA UFPI

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