sexta-feira, 4 de maio de 2012

Fez-me poeta o destino


No livro “Verônica”, 1927, Da Costa e Silva (Antônio Francisco da Costa e Silva: Amarante, Piauí, 1885-Rio de Janeiro, 1950), extravasou as “Imagens da Vida e dos Sonhos”. Justificativa para os episódios “O homem que volta”. “Quando fui, com o meu sonho ingênuo e lindo,/ Pelas estradas amplas, luminosas/ Vinham as Graças desfolhando rosas./ Ergui os olhos para os céus, sorrindo,/ A beleza da vida pressentindo.../Quando vim, com o meu tédio miserando,/ Pelos estreitos e áridos caminhos,/ Iam
as Parcas espalhando espinhos.../ Baixei os olhos para o chão, chorando,/ E fiquei para sempre meditando...”. Já no episódio: “Fez-me poeta o destino”, Da Costa e Silva mostrou-se reflexivo: “Quando nasci, o destino/ Fez-me poeta, ainda no berço;/ Tanto assim que, pequenino,/ Minha mãe rezando o terço/ Pensava no meu destino,/ Entre os vaivéns do meu berço...”. Esclarecemos: o poeta empregou a palavra “Garças” intuito da designação de três deusas pagãs que personificam o dom de agradar. Na palavra “Parcas”, Da Costa e Silva buscou as três deusas: Laquessis, Cloto e Atropos. Consoante a mitologia, fiavam, dobravam e cortavam o fio da vida.

Quanto ao soneto “Interrogação”, do imortal Adail Coelho Maia (São João do Piauí, 1907-1962), eis um primor literário: “Ris, por que ris de mim? Julgas por certo/ Que eu seja indigno de qualquer carinho?/ - Ave perdida procurando ninho/ Na solidão profunda do deserto?.../ “Vivo longe de ti, e a passo incerto/ Sigo em silêncio o teu feliz caminho,/ Porque sem ti me sentirei sozinho,/ Trazendo o peito em mágoas encoberto./ “Não sou capaz de profanar-te o nome,/ Sofrendo embora esse martírio ardente,/ Na fogueira do amor que me consome!.../ “Não rias, pois, da dor que me rodeia!/ Olha que Deus proibe e não consente,/ Que a gente ria da desgraça alheia!...” oooo O poeta Paulo Trindade Veras (Parnaíba, Piauí, 1983), foi um notável literato que no florir dos 30 anos, por força de uma doença congênita (gerada ao mesmo tempo) do coração, deixou uma saudade tantas vezes reflorida. As veias abertas para as crônicas fez Paulo Veras buscar o apurado texto: “A cidade do poeta”. “Era uma vez um poeta que construiu uma cidade toda de poemas. As ruas foram traçadas em versos livres. Eram largas e cheias de sombra. As casas foram feitas de sonetos, enfileiradas, quatro a quatro, três a três. Todas muito bonitas. A igreja erguera-se numa longa ode. Os edifícios, ele os construiu com alexandrinos, majestosos e imponentes. Por fim, tomou um rondô e fez para si uma casinha muito acolhedora no alto do Parnaso. Esclarecemos: Paulo Trindade Veras empregou as palavras “ode”, “rondô” e “Parnaso”, a fim de alcandorar o seu apurado texto sobre a cidade do poeta. “Ode”: entre os antigos gregos, composição em verso que se destina a ser cantada. “Rondô”: composição poética com estribilho constante. “Parnaso”: montanha da Fócida (Grécia antiga)
consagrada a Apolo (deus grego-romano, o mais belo dos deuses) e às musas (divindades inspiradoras da poesia).

Duas opiniões formaram o caráter de Oliveira Neto (Carlos Ferreira de Oliveira Neto (São Raimundo Nonato, Piauí, 1907-Teresina, Piauí, 1983). A primeira pertence ao notável A. Tito Filho (José de Arimathéa Tito Filho - Barras, Piauí, 1924-Teresina, Piauí, 1992): “Considero Oliveira Neto uma das grandez vozes da poesia piauiense”. A segunda pertence ao escritor Cunha e Silva (Francisco da Cunha e Silva: Amarante, Piauí, 1905-Teresina, Piauí, 1990):

“Oliveira Neto é poeta lido e admirado no Piauí todo e fora das suas fronteiras”.

O poeta William Soares (William Melo Soares (Alto Longá, Piauí, 1953), num momento de tranquilidade, colocou no livro: “Na Rota do Beija-Flor”, a sua dedicação pelo mês de maio: “Céu de maio/ Elegante/ A garça pousa/ Na ramagem,/ Ribeirinha/ Flor de salsa/ Céu de maio/ Amor de mãe/ Nesga de nuvem/ No
azul”. E, num belo rompante, atreveu-se ao significado da levitação (experiência indicativa de alguma coisa acima do solo): “Eu te levo/ Tu me levas/ Nós levitamos”.




CARLOS SAID
JORNALISTA E PROFESSOR

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