sábado, 26 de maio de 2012

Estiagem


Maio ventoso, mês formoso. Abril. Chuvas mil. Contrariando os refrões e as estações, Teresina ultimamente tem andado às avessas. Saudou o anteriormente chuvoso mês com uma elevação de temperatura digna dos br-ó-brós e as chuvas vieram em número reduzido. O agradável vento geral que acompanha a reluzente claridade de maio parece esquecido do papel principal que lhe cabe nesta quadra do ano e limita-se a soprar brandamente em meio ao calor de algumas manhãs.

No início deste maio vi “a lua andando numa lagoa”, como dizia minha mãe, o que segundo ela era um sinal certo de chuva. Com efeito, na manhã seguinte, muito cedo caiu uma chuva forte, rápida. E mais uma vez recordei-a, sertaneja que era, contando:

“Quando vai ter seca, o tempo engana, como quem vai chover, o céu fica cheio de nuvens escuras que passeiam, viram e mexem como manadas pastando e, quando o sol vai sumindo elas descem rápidas e ficam baixas, perto do chão e corre um ar abafado.

Os relâmpagos ficam se escondendo nos nevoeiros que tomam conta do céu e os trovões estalam ora perto, ora longe, parece que vai chover, mas não chove. E aí o vento corre, vira ventania, redemoinhando, formando um funil de poeira e folhas secas e no meio do funil –diz o povo – que está o cão montado no cavalo do vento. Cruza os céus e arrodeia por trás das serras, assobiando, como quem está chamando a chuva, mas não chama coisa nenhuma, tá é botando a chuva pra correr.

Fazendo do vento o seu cavalo, o cão persegue as nuvens até que elas atordoadas, atrapalhadas, mudam o rumo fugindo para longe, para o mar, e se desmancham, os trovões e os relâmpagos também enxotados vão estalando e clareando cada vez mais distantes até sumirem. Muito depressa o céu volta a ficar azul, sem nenhuma nuvem, e o sol quente como uma brasa. De dia faz um calor de rachar, de noite esfria, e no céu claro, tão limpo que parece que foi varrido, sempre aparecem muitas estrelas”.

A lenda da seca, contada por minha mãe, torna-se  mais uma vez realidade no sertão este ano, e ouço, nos relatos de minha irmã, pequenas variações do mesmo drama: diz que o pé de cedro ao lado da sua casa, em Marcolândia, na Serra do Araripe, está inteiramente desfolhado, que os bravos umbuzeiros resistem, que a safra da mandioca está prejudicada, que tudo ao redor da propriedade está seco, que o vento traz muita poeira, que a cisterna secou e que para enchê-la paga carradas d’água a 120 reais...

Nada de novo neste front, tudo é repetição de anos passados, inclusive o descaso do governo diante do problema e a nossa indignação, que de nada tem adiantado.




DALVA MATOS
PROFESSORA

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