segunda-feira, 9 de abril de 2012

A morte de Jesus para Nietzsche


Nietzsche, apesar de estabelecer ao longo de sua trajetória filosófica uma série de críticas aos preceitos teológicos cristãos e seus fundamentos morais, apresenta de forma bastante surpreendente, em sua obra O Anticristo, uma interpretação positiva sobre a figura de Jesus. Nestes termos, para Nietzsche, de fato nunca houve cristão absolutamente algum, aquele que diz que é cristão há dois mil anos até hoje não é outra coisa senão uma ilusão psicológica criada pela Igreja Católica. Com isso, na ótica nietzschiana, o cristianismo se torna assim uma religião não só motivada por erros, mas até inventiva e mesmo genial unicamente no domínio dos erros perniciosos que põem em perigo a vida e envenenam corações.

De acordo com Nietzsche, Jesus morreu como tinha vivido, ou seja, como havia ensinado. A tese aqui defendida pelo filósofo alemão é a de que Jesus não morreu para salvar os homens, mas sim para demonstrar como se deve viver. A prática vivenciada do amor universal, pregada por Jesus de Nazaré, conduziuo à morte como a consequência inevitável dessa pregação. Em outras palavras, a representatividade da morte de Jesus, para Nietzsche, significa que Jesus não poderia querer outra coisa senão revelar publicamente a prova mais contundente de demonstração moral de sua doutrina indicada através de uma superioridade sobre toda a forma de ressentimento.

Entretanto, o sentimento menos evangélico (de vingança) desperto naquele que não compreendeu tal mensagem foi o que se sobrepôs a tudo, uma vez que havia a necessidade de reparação, de castigo e de juízo, contrariando totalmente a mensagem Evangélica de Jesus. É neste momento de mais puro ressentimento que veio à tona a esperança popular de um messias, um salvador da humanidade e misericordioso. A forma de vingança era assim instalada, ou seja, consistia em elevar Jesus exageradamente, em separá-lo dos outros seres, para elevá-lo às alturas de forma análoga ao que os judeus fizeram como
forma de ódio aos seus inimigos se haviam separados do seu Deus.

Em síntese, podemos dizer que para Nietzsche, o significado da morte de Jesus na cruz representava de fato o término de todo o esforço completamente original para um movimento rumo à felicidade aqui sobre a Terra e não apenas prometida, baseado na superação do pecado, na negação do abismo criado entre Deus e o homem, na vida, no ensinamento e no sentido do direito de todo Evangelho.
 
A concepção de que Deus deu o seu filho em sacrifício para remissão dos pecados da humanidade seria na verdade a resposta encontrada para justificar que nada havia terminado e que o Evangelho não se acabaria assim tão facilmente. Desde então, foi introduzido pouco a pouco como uma vertente real na tipologia do Salvador a doutrina do “juízo final”, “da última vinda”, “a doutrina da morte como sacrifício” e a absurda ideia da “ressurreição” pela qual toda a ideia de salvação se vê completamente escamoteada em favor de um estado para depois da morte.



ERICK GUSTAVO DE O. SALES
BACHARELANDO EM FILOSOFIA

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