domingo, 15 de abril de 2012

Uma pedra no caminho


Esta é uma fábula do jornalista Mino, que possui uma preciosa mensagem mercadológica e amorosa.

Qual a mulher que não aprecia um brilhante? Qual a mulher que não ficaria feliz ganhando um solitário daqueles imensos? Foi o que pensei quando entrei na loja pra comprar um presente para minha namorada.

Havia ganho meu salário naquele dia e cheio de coragem entrei na loja procurando demonstrar muita naturalidade diante dos preços esmagadores que a vendedora me apresentava. Não havia anel que pelo
menos empatasse com o que eu tinha no bolso. A vendedora, acostumada com essas reações de pessoas como eu, já havia sentido no cheiro que eu era um liso.

- Por que o Sr. não faz um crediário?

- Claro... é o que eu ia propor.

- Qual foi desses o que o Sr. gostou mais?

- Aquele pequeno acolá, o menorzinho... assenta com a minha namorada.

- O Sr. vai levar esse, o menor? Como é o tipo da sua namorada?

Senti que a vendedora havia me encurralado para empurrar um anel caro e disse que a minha garota era baixinha, magrinha e tinha dedos pequenos e finos. Tive que mentir. Se dissesse que ela era alta e jogava basquete no time do colégio dela, a vendedora iria, na certa, me empurrar a joia mais cara.

- Olhe, vou dizer uma coisa para o Sr. Se sua garota é assim como o Sr. disse, pequenina e magra, leve esse que fica bem melhor nela. Pra gente alta e grande, anel pequeno. Para tipos assim como o da sua namorada, anel de pedra grande... Este aqui, olhe, que linda, eu se fosse ela iria adorar.

Não teve jeito. Minha timidez venceu e lá estava eu assinando o imenso formulário do crediário e pagando a primeira prestação que me deixou sem um tostão no bolso. Fiz os cálculos. Durante oito meses eu iria trabalhar só pra pagar o bendito anel. Mas me consolei com a alegria que ele causou, com os beijos que recebi e com o cartaz que passei a ter. Mas, o destino às vezes ajuda os lisos. O anel havia ficado um pouquinho apertado e eu levei de volta à loja para dar um ajuste.

A vendedora estava meio chateada com o patrão dela, não sei por que cargas d’água, e desabafou pra mim.

Conversamos horas a fio e no final eu também desabafei a minha preocupação com aquela compra doida que havia feito e ela me ajudou a desfazer o negócio.

- Infelizmente, não posso fazer nada quanto à entrada que o Sr. pagou, mas pode levar outra coisa mais baratinha e mais em conta para ela. Aliás, pra lhe dizer a verdade, minha mulher não faz muita questão de coisa cara, não. O importante é o carinho com que se dá e se recebe.

Suspirei aliviado e nunca me senti tão leve. Minha namorada nem se fala. Ficou mais feliz ainda com a aliançazinha de rubi que levei no lugar do solitário, pensando que era mais um presente. Até uma amiguinha dela meio indiscreta perguntou por que eu andava a pé, não tinha um carro e vivia comprando joias caras. O tempo passou e um dia ela me perguntou pelo anel que eu havia mandado ajustar e não havia trazido de volta. Contei a verdade.

- E gora? O que eu vou dizer pra quem perguntar? Disse minha namoradinha supercompreensiva.

- Diga que tiramos uma pedra do nosso caminho. Respondi.

Naquele dia, duas lições aprendemos. Que o melhor do presente é o momento presente e que vale mais uma ideia brilhante do que uma pedra preciosa.

É verdade, quem compra o que não pode,vai ter que vender o que não deve.



LÁZARO DO PIAUÍ
ESCRITOR

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