segunda-feira, 16 de abril de 2012

O mito dos gêmeos


Propositadamente escolhi um título que disfarça o conteúdo deste texto. O meu objetivo aqui é fazer breves comentários sobre um livro que li, ofertado por um pesquisador da área de História da UFPI. O livro faz parte da coleção Mitos, da Companhia das Letras, e seu título original é “The Good Man Jesus and the Scoundrel Christ”. A tradução é “O bom Jesus e o infame cristo”.

O texto é de agradável leitura e não exige muito do leitor. Também não exigiu muita criatividade do autor (Philip Pullman) pois tudo nele é referente a vida de cristo conforme traçado nos evangelhos. O objetivo do autor é reconstruir uma perspectiva humana plausível para o “mito” criador do cristianismo. Neste ponto, o capital intelectual do autor não foi suficientemente mobilizado para suprir a falta de criatividade.

Onde a teologia cristã enxerga a existência de duas naturezas (humana/divina) numa só pessoa (Jesus Cristo) e com isto explica os dramáticos acontecimentos de sua vida e ressurreição, o autor supõe a existência de gêmeos (Jesus e Cristo) para traçar uma história de Jesus (gêmeo bom) adulterada por Cristo (gêmeo infame).

A razão da adulteração está numa figura obtusa de um desconhecido que prefere a verdade (reconstrução histórica ideológica com a finalidade de criar a Igreja) no lugar da história (construção fidedigna dos fatos nos limites humanos de seus autores e de seu tempo). Neste ponto faltou a formação humanística do autor (história, psicologia, política, sociologia, etc.) para justificar razoavelmente, mesmo para uma novela, a visão “maquiavélica” deste desconhecido em formar uma igreja.

O autor mostra um conhecimento dos evangelhos suficiente apenas para transcrevê-los em linguagem atual e plausível para o leitor moderno. Ou seja, todos os milagres e outras narrativas que exijam fé são readaptados para uma leitura que dela prescinda. Os textos de conteúdo moral do evangelho foram escritos com algum relaxo e apresentam erros grosseiros como fusões de histórias distintas. A clássica parábola do pai misericordioso (filho pródigo) é vista como uma disputa entre os gêmeos.

Como uma crítica pertinente ao mito fundador do cristianismo, o livro não se sustenta pois cria mais fábulas do que desfaz milagres. Como difusão dos evangelhos numa linguagem atual é completamente inútil a sua leitura, pois mais trai do que traduz a história do  cristianismo. Mas nada no mundo é desprovido de mérito e agradeço ao amigo
que me presenteou.



JOSÉ MACHADO MOITA NETO
LEITOR DO JMN

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