quarta-feira, 18 de abril de 2012

William Palha Dias


O alegre e divertido William Palha Dias (Caracol, Piauí, 1918 - 2012), longevo contador de piadas, foi um escritor qualificado e dono duma prodigiosa inteligência como juiz de Direito das comarcas de Parnaguá, Regeneração, Pedro II e Oeiras. Na Faculdade de Direito do Piauí (data oficial de fundação: 25 de março
de 1931), recebeu o diploma de bacharel, turma de 1959, ao lado de Antônio Barros Araújo (Picos, Piauí, 1934), Benedito da Rocha Freitas Filho (Floriano, Piauí, 1929), José Gomes Campos (Regeneração Piauí, 1925-Teresina, Piauí, 2007), Juarez Piauiense de Freitas Tapety (Oeiras, Piauí, 1931), José Pinheiro Machado (Parnaíba, Piauí, 1918-Teresina, Piauí, 1982).

Diariamente, buscando o “leite de gado” em ponto comercial do bairro Piçarra, Teresina, sustentando pelo braço direito o vasilhame para colocar o produto, o caracolense William Palha Dias que se absteve do cargo de desembargador do Tribunal de Justiça do Piauí porque a sua humildade não permitia tal acesso, dava um pulo demorado no comércio (mercadinho) do Heli, veterano merceeiro das redondezas do Mercado da Piçarra. Ali, encontro marcado sempre cedo da manhã. Pra contar piadas e recebê-las de pronto, dos diaristas contadores de lorotas hilariantes: Cordão, Marcelo Rodrigues (falecidos), Arlindo, Doutor Hércules e o escrevinhador desta crônica.

Tudo conferido pelo bebericar do cafezinho do Heli, falecido em 1998.

Nas lides literárias, o acervo bibliográfico de William Palha Dias é fantástico e proveitoso. Em 1979, após escrever “Os Irmãos Quixaba”, produtores cinematográficos adaptaram a história a fim de levá-la à sala de projeções em cinemas espalhados pelo território nacional. O talento de Palha Dias para a historiografia brasileira e de escritor de livros em forma de romance, começou em 1960: “Caracol na História do Piauí”. Outros títulos honrados apareceram: “Endoema”, 1965; “Piauí, Ontem e Hoje”, 1975, co-autoria com a professora Maria das Graças e Silva Palha Dias, sua esposa; “E o Sibirata Casou”, 1978; “Vila de Jurema”, 1973; “Mulher Dama, Sinhá Madama”, 1982; “O Dia Dia de Todos os Dias”, 1983; “Alcorão Rubro”, 1994; “Memorial de um Obstinado”, 1997; “Flagrantes do Quotidiano”, 1998; “Papo Amarelo”, 2000; “São Raimundo Nonato – de Distrito Freguesia a Vila”, 2001; “Rascunho Histórico de Cristino Castro”, 2003; “O Predestinado” 2007, última obra publicada. E, no instante da saúde abalada, Palha Dias foi levado ao assento duma “cadeira de rodas”. Agoniado pela doença, deixou de escrever. Entregue às mãos de Deus, perto dos cem anos, ainda reencontrou a sua mais quente veia poética através de versos agasalhados pela pertinácia do que é malicioso: “Na trabalhosa evolução do instinto,/ Com o tempo para isso incalculável,/ Numa volúpia ardente, insaciável,/ Numa invenção de artista... Em labirinto,/ “Nos dois grotescos lábios de dois seres,/ Num simbolismo ardente... Em atração,/ Num reflexo de estranha sensação,/ Surge o beijo efusivo de prazeres./ “Para o esboço de nossa veleidade,/ Na formação psíquica da espécie,/ Do homemcaverna ao homem da cidade,/ “Beijo! Protótipo do amor, carícia!/ Tu nos levas do altar de nossa prece,/ Ao fantástico engenho da malícia”.

Jornalista de conceito magnífico na imprensa nacional, William Palha Dias ficou honrado ao receber o título nobre de Comendador da Ordem da Renascença do Piauí. Alvorecendo o século XXI, 2000, após ter publicado o livro “Papo Amarelo”, ganhou o “Prêmio Da Costa e Silva” (Antônio Francisco da Costa e Silva: Amarante, Piauí, 1885-Rio de Janeiro, 1950), conferido pelo “Concurso Nacional Joaquim Nabuco (José Tomás Nabuco de Araújo: Salvador, Bahia, 1813- Rio de Janeiro, 1878), de contos, crônicas e novelas”, evento organizado pela Academia Brasileira de Letras (data oficial de fundação: 20 de julho de 1897). Na ocasião, William Palha Dias recebeu o precioso troféu no lotado auditório da ABL, a denominada “Casa de Machado de Assis” (Joaquim Maria Machado de Assis: Rio de Janeiro, 1839-1906), situada na cidade do Rio de Janeiro. Assim, é que a Academia Piauiense de Letras (data de fundação: 30 de dezembro de 1917), ao perder o extraordinário acadêmico, registrou as palavras de Fontes Ibiapina (João Nonon de Moura Fontes Ibiapina (Picos, Piauí, 1921-Parnaíba, Piauí, 1986): “Foi
caboclo das caatingas secas de Caracol, dono da carrada de obras editadas, para que possa ser analisada no tempo e no espaço”.



CARLOS SAID
JORNALISTA E PROFESSOR

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