quinta-feira, 12 de abril de 2012

Livramento é José de Freitas


Livramento é José de Freitas, há muito tempo isto aconteceu. De fato o município piauiense da região norte, hoje denominado José de Freitas, originou-se da antiga Vila do Livramento, constituinte da vasta Fazenda Boa Esperança, que agregava terras dos atuais municípios de Campo Maior, José de Freitas, União e Barras, os quais após as colonizações, os desmembramentos e demarcações, dividiram-se em unidades municipais. Os principais colonizadores da Vila do Livramento foram europeus, especialmente portugueses e/ou seus descendentes. Das várias uniões de portugueses com outras famílias de brasileiros nascidos nas diversas províncias do Nordeste e até do Sudeste, como é o caso dos Fortes Bustamante de Sá Meneses vindos de Minas Gerais, que também se estabeleceram na Vila do Livramento, se originaram raízes e frutos das famílias Castelo Branco, Gaioso, Almendra, Freitas, Costa, Araújo, Fortes e muitas outras que povoaram e desenvolveram o atual Estado do Piauí.

Os colonizadores das terras livramentenses desenvolveram atividades agropecuárias com sucesso, graças a boa qualidade do solo e aos vários olhos d’água perenes. Implantaram fazendas de gado, tendo a edificação de templos religiosos como marco central dos povoamentos que, posteriormente, tornaram-se cidades. Acredita-se que este modo de desenvolvimento dos polos urbanos no período colonial se deu em decorrência do fervoroso culto ao catolicismo vivenciado pela nobreza portuguesa e/ou seus descendentes em diversas partes do país. Assim aconteceu na antiga Fazenda Boa Esperança com a construção da Capela de Nossa Senhora do Livramento, em torno da qual se desenvolveu o povoamento da Vila do Livramento, instalada em 07 de Abril de 1878, pelo Governo da Província, anos mais tarde denominada José Freitas.

No século XXI a contemporaneidade, a globalização e a influência da atual e moderna capital Teresina, observa-se a expansão demográfica de José de Freitas, sem ocorrer um igualitário desenvolvimento sócioeconômico para os munícipes. Embora a cidade seja ou tenha sido o berço e/ou domicílio eleitoral de muitos políticos que ocupam ou ocuparam os mais relevantes cargos públicos, inclusive o de governador do Estado. Pouco deste status social e político se reverteu em benefícios, obras estruturantes e investimentos impulsores do desenvolvimento sustentável.

Não se pode negar que a cidade cresceu. Novas edificações, muitas modificações na urbanização centrada na área da Igreja Matriz, que perdeu o verde panorama das encostas do “Morro do Fidié”, popularmente conhecido com “Morro do Cristo”, que representou por muito tempo o cartão postal da cidade e o principal ponto de visitação dos turistas. Mais uma vez, observa-se a força da religiosidade, especialmente do catolicismo, renovado e fortalecido a cada festejo de Nossa Senhora do Livramento.

Por outro lado, assim como na maioria das cidades brasileiras, as belezas naturais e as construções históricas não foram preservadas. Monumentos que marcaram épocas como os coretos, as praças, os cemitérios, imóveis domésticos e comerciais foram demolidos e a cidade perdeu parte deste patrimônio natural e histórico. No entanto, um imóvel da antiga Vila do Livramento, a Vila Tejo ou o Chalé do Coronel José de Freitas, manteve-se de pé.

Embora sofrendo a contínua e progressiva ação de vandalismo e destruição, perdendo ano a ano itens e adornos arquitetônicos. Numa demonstração de total abandono assistimos há mais ou menos cinco anos a demolição das paredes da casa onde viveu por muitos anos o benfeitor português e amante das terras livramentenses. Também foi ali que faleceu José Rodrigues de Almendra da Fonseca Freitas em 01 de março de 1931; 18 dias após seu falecimento, Joaquim Lemos Cunha, oficial do Exército designado interventor Federal da Província do Piauí dava a Vila do Livramento o nome expressivo de José de Freitas, homenagem do governo e do povo piauiense e livramentense.

Até os mais jovens, filhos e descendentes da Vila do Livramento mantêm o amor pela cidade, seu povo, sua padroeira, suas memórias, belezas naturais e arquitetônicas, elas elas o chelé. E estes anos de depredação e abandono fez brotar em cada um sentimentos de tristeza e indignação com a perda deste patrimônio histórico. Dia 07 de abril comemorou-se o 134º aniversário da cidade. Como descendente de um clã familiar nativo das terras livramentenses, gostaria de expressar nosso contentamento com a restauração do chalé, que será inaugurado no próximo dia 13. Sem conotação política partidária, nem objetivando aprovar a gestão pública do município, porém por dever de justiça e consciência, devemos louvar a iniciativa do município em recuperar este monumento para uso público, resgatando a memória histórica de homens e mulheres que construíram os alicerces da Vila do Livramento, hoje a cidade de José de Freitas.




PROFA DRA MARIA DO
L. F. FIGUEIREDO
DOCENTE E PESQUISADORA DA UFPI

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