sexta-feira, 6 de abril de 2012

A Comunhão dos Sonhos


Os livros do escritor João Alves Filho (Campo Maior, Piauí, 1944): “O dia a dia do motorista brasileiro”, “Campo Maior e o contraditório” e “ Geni, uma história encantadora”, revelam a extraordinária inteligência desse campomaiorense agasalhado pela Academia de Letras do Vale do Longá (data oficial de fundação: 23 de setembro de 1978). O primeiro dos três compêndios está fundamentado no “Novo Código Brasileiro de Trânsito”. No bojo do didático livro, encontramos conselhos úteis reforçando a humanização no trânsito de veículos de diversos tamanhos pelas cidades e estradas brasileiras. O segundo livro dá importância ao progresso de Campo Maior, cidade com as questões administrativas possuindo contradições. Por isso, João Alves Filho relacionou os problemas a fim de provar a existência de vícios que dificultam as tarefas da administração municipal. E como astuto político que presidiu a Câmara Municipal de Campo Maior, se transformou num detalhista apropriado a sustentar históricos erros de administração municipalista.. Mas é no terceiro livro que ele registra a união com a fiel esposa Geni, ressaltando a duradoura amizade que se ajunta à excelente educação familiar.. De fato, registro duma história encantadora de amor e de obediência aos preceitos cristãos.

Notável é o soneto “Sob outros céus”, extravasando os sentimentos do “príncipe dos poetas piauienses, o amarantino Da Costa e Silva (Antônio Francisco da Costa e Silva:, 1885-Rio de Janeiro, 1950). “Eu sou
tal qual o Parnaíba : Existe/ Dentro em meu ser uma tristeza inata,/ Igual, talvez, à que no rio assiste/ Ao refletir as árvores, na mata.../ “O seu destino consiste em retratar./ Porém o rio tudo que retrata, / De alegre
que era, vai tornando triste,/ No fluido espelho móvel de ouro e prata.../ “Parece até que o rio tem saudade/ Como eu, que também sou desta maneira,/ Saudoso e triste em plena mocidade./ “Dá-se em mim o fenômeno sombrio/ Da refração das árvores da beira/ Na superfície trêmula do rio”.

O sociólogo e poeta Alarico José da Cunha (São José das Cajazeiras, Maranhão, 1883-Rio de Janeiro, 1965), notabilizou-se entre os piauienses e, por isso mesmo, tornou resplendente “A comunhão dos sonhos”. “Rosa, jasmim, camélia, dália e lírios,/ Ricos manjares feitos com esmero,/ Rimas sublimes do maior delírio- / Nada desejo..., nada disso quero.../ “Viver sem dor, sem mágoa é sem martírio,/ Zombando e rindo do destino fero,/ Sorvendo os gozos de um ditoso empírico, - / Jamais aspiro, nem por tal espero.../ “Moça orgulhosa e de feliz futuro,/ Que tenha dote e cofre de ouro antigo, - / Também não quero, nem sequer procuro./ “Só quero aquela do perfil risonho,/ Que tem o hábito de sonhar comigo/ Todas as vezes que com ela sonho!”. Esclarecemos: Alarico José da Cunha empregou o vocábulo “fero”, intuito de significá-lo “cruento”. A respeito de “empírico”, o poeta empregou a palavra para ditar o seu “realismo”.

Eis, agora, o triunfo do famoso José de Arimathéa Tito (Barras, Piauí, 1887- Teresina, Piauí, 1963), ao bradar o que se pode considerar como “Anjo diabólico”. “Minha mulher é um diabo. Toda hora/ Nós brigamos de um modo bem tristonho./ Ela promete que se vai embora/ Mas eu a tudo que ela quer me oponho./ “Ela bate com o pé, e grita, e chora,/ Eu também bato e torno-me medonho!/ E no vigor de minha raiva: - Fora!/ - Grito à mulher que trucidou meu sonho!/ “Fico depois arrependido... E penso/ Que deveria ser mais brando e terno,/ - Não ter como ela esse furor intenso.../ “Mas tudo é a força da paixão que dita: / - Esta paixão tremenda como o inferno,/ É mesmo um diabo esta mulher bonita!”




CARLOS SAID
JORNALISTA E PROFESSOR

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