sábado, 17 de março de 2012

Uma lacuna na saúde


Ao acompanhar nossas mães e/ou avós a postos de saúde ou consultórios médicos, não precisa nem ser da área da saúde, para observarmos como a atenção a saúde ginecológica e das mamas é negligenciada quando se trata de mulheres que ultrapassaram a faixa etária dos 60 anos, mesmo que os programas de saúde, tanto da mulher como do idoso, preconizem a assistência integral a mulher no ciclo vital. De modo discriminatório e preconceituoso, tanto a sociedade como os profissionais de saúde culturalmente negam a sexualidade para idosas, ficando em segundo plano os cuidados de saúde dispensados ao aparelho reprodutor e as mamas para este grupo, especialmente, na atenção básica, que prioriza as doenças crônicodegenerativas como hipertensão arterial e o diabetes mellitus. Via de regra, as mulheres idosas não realizam exames preventivos e fundamentais para o diagnóstico precoce dos dois tipos de câncer que mais as acometem: o de colo de útero e de mama.

Esta observação empírica e cotidiana pode ser confirmada nas estatísticas oficiais do Ministério da Saúde e em pesquisas científicas realizadas nos diversos Estados, dentre as quais destacamos uma investigação realizada em 2010, no Piauí, sobre a prevalência de idosas mastectomizadas que não se submeteram a reconstrução mamária.

Levantou-se um total de 154 idosas mastectomizadas sem o imediato procedimento oncoplástico. O câncer de mama, na maioria dessas idosas, foi diagnosticado em fase avançada, com consequente mastectomia radical. Além disto, poucas foram informadas da possibilidade de realização dos procedimentos oncoplásticos, bem como acerca do sutiã e/ou prótese externa, que pode ser usado como instrumento de
reabilitação postural e estética de fundamental importância para as mulheres.

Para agravar a situação, o Brasil dispõe desde 1999 de legislações que foram aprimoradas em 2001 e 2008 que garantem a reconstrução mamária imediata após mastectomia. Infelizmente, soma-se ao descumprimento destas leis, o desconhecimento das próprias mulheres sobre seus direitos. Diante dessa precariedade dos serviços prestados pelo SUS acrescentam-se o déficit de informações sobre as possibilidades de minimização de danos e deformidades osteoesqueléticas a partir do uso e adaptação
de sutiãs e/ou próteses externas, que se utilizadas sistematicamente mostram-se como modalidade terapêutica de melhoria estética, bem como prevenção de desvios na coluna vertebral, alterações do eixo gravitacional e das consequentes perdas de equilíbrio na macha, com ampliação da possibilidade de quedas.

Esta problemática de grande repercussão física, emocional, social, cultural e sexual na vida cotidiana das idosas após mastectomia instigou-nos a questionar este grupo de mulheres. Em estudo recente desenvolvido por Walquirya Maria Pimentel dos Santos Lopes, mestranda do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí, orientada pela Profª Drª Maria do Livramento Figueiredo, buscou-se desvendar o conhecimento e a prática de uso de sutiãs e/ou próteses externas por idosas mastectomizadas. Os depoimentos de 20 entrevistadas em seus domicílios apontaram a fragilidade no conhecimento e a precariedade no uso do sutiã e/ou prótese externa após a cirurgia. Diante destes
resultados podemos concluir que a desinformação e a insuficiência de serviços assistenciais na prevenção, diagnóstico precoce, tratamento e reabilitação ainda são superiores à capacidade instalada e os recursos humanos capacitados para atender uma demanda tão crescente dessa assistência.

Os objetivos de uma pesquisa científica desta natureza devem ir além da crítica às fragilidades e precariedades assistenciais. Neste sentido, apontamos sugestões para o setor saúde capazes de minimizar os impactos negativos destas falhas na atenção a mulher idosa. Sugerimos que sejam desenvolvidas continuamente capacitações dos profissionais de saúde da Atenção Básica, com destaque para o enfermeiro, sobre as políticas de saúde de atenção ao Idoso, destacando os direitos das mulheres mastectomizadas asseguradas pelo Sistema Único de Saúde; além da implantação e fortalecimento de
grupos de auto-ajuda nos diversos territórios de saúde, com estratégias de socialização das informações sobre a problemática do câncer e das tecnologias de reabilitação.




PROFA. DRA. MARIA DO
LIVRAMENTO FIGUEIREDO
DOCENTE E PESQUISADORA DA UFPI

Um comentário:

  1. Muito interessante esse comentário,pois as mulheres idosas tem os mesmos direitos e sentimentos que todas as outras... imaginem que dó, sendo já velhas e ainda mastectomizadas, como devem se sentir tão infelizes e abandonadas !!! Tôda mulher é vaidosa, mesmo as velhinhas que tem dinheiro amdam muito elegantes, com lindas roupasm maquiagem, cabelo bem arrumado, se semtem MULHER!!! Mas as pobres coitadinhas, ficam entregues ao desprezo, sem direito a nada, nem sequer as informações, apenas esperando a morte chegar... é muito triste viver nesse país que se chama (brasil).....

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