sexta-feira, 9 de março de 2012

A poesia anda de ônibus


O texto apurado: “A poesia anda de ônibus”, pertence ao jornalista Zózimo Tavares Mendes (Novo Oriente, Ceará, 1962). Deixá-lo de publicar seria um erro de avaliação literária. Portanto, “A poesia anda de ônibus” é um dos projetos culturais de maior sucesso em Teresina, seja por seu admirável apelo estético, seja pela sua grande repercussão entre os leitores. O projeto veicula nos ônibus poemas ricamente ilustrados, com adesivos autocolantes, com pouco investimento e grande resultado, pela imediata aceitação do público. As ilustrações são de Gabriel Archanjo e Dino Alves, o que equivale dizer, “A poesia anda de ônibus” é, na verdade, um projeto “Dois em um”: o poema em si e a ilustração. Idealizado pelo poeta William Melo Soares, o projeto teve a sua primeira edição em 2005, com o patrocínio da Prefeitura de Teresina. Neste 2012, entra em sua segunda edição, com 12 poetas piauienses que andando de carona nos ônibus, de mãos dadas com o passageiro, por quatro meses. São poemas leves, selecionados para provocar no leitor, sobretudo, uma sensação de bem-estar. Com o acesso da população à produção de grandes nomes da poesia piauiense, o projeto democratiza a leitura a baixo custo. Entre os autores convidados estão Climério Ferreira, Cineas Santos, João Carvalho, Laerte Magalhães, Marleide Lins, Paulo José Cunha, Rubervan Du Nascimento e Salgado Maranhão, além do próprio William Melo Soares. Como diz William, “a poesia não resolve. Revolve”.

Em Félix Pacheco (José Félix Alves Pacheco: Teresina, Piauí, 1879-Rio de Janeiro, 1935), encontramos a poesia de cunho simbolista; “Símbolo dos Símbolos. “Caveira! Tu conténs a síntese do mundo!/ Trazes
dentro de ti o impalpável mistério./ És o louro mudado em tinhorão funéreo,/ És o azul transformado em báratro profundo!/ “Destronados Satãs de olhar meditabundo,/ Andam dentro de ti como num cemitério,/ E os Faustos doutorais, de aspecto mudo e sério,/ Descem do informe caos ao tenebroso fundo./ “Cabalístico signo exótico do nada,/ Sofres, e a tua dor, caveira, é sufocada,/ Gemes, e o teu gemido esvai-se em ironia./
“Resta-te agora só, depois de tantas glórias,/ A lembrança cruel das passadas vitórias/ E essa amarga expressão de funda nostalgia”. Esclarecemos: o genial Félix Pacheco utilizou as palavras: “tinhorão”, “bá-
ratro”, “meditabundo” e “Faustos”, a fim de significá-las: “Tinhorão”, erva da família das aráceas, cultivada extensamente por sua beleza; “Báratro”, transformação em abismo profundo; “Meditabundo”, significação de meditação profunda. E “Faustos” como indicativo de felizes.

O incansável escritor, professor e poeta Cineas Santos (Cineas das Chagas Santos: Caracol, Piauí, 1948), num momento feliz de sabedoria poética, extravasou: “Sem você,/ Eu viveria, sim/ Mas seria eu/ Sem mim”.

O imortal poeta Adail Coelho Maia (São João do Piauí, 1907-1962), obteve consagração literária anos depois de sua trágica morte (vitimado pela tuberculose). Em “Interrogação”, concentrou Adail sua grande força espiritual. “Ris, porque ris de mim? Julgas por certo/ Que eu seja indigno de qualquer carinho?/ - Ave perdida procurando ninho/ Na solidão profunda do deserto?/ “Vivo longe de ti, e a passo incerto/ Sigo em silêncio o teu feliz caminho,/ Por que sem ti me sentirei sozinho,/ Trazendo o peito em mágoas encoberto./ “Não sou capaz de profanar-te o nome,/ Sofrendo embora esse martírio ardente,/ Na fogueira do amor que me consome!.../ “Não rias, pois, da dor que me rodeia!/ Olha que Deus proíbe e não consente,/ Que a gente ria da desgraça alheia!...”



CARLOS SAID
JORNALISTA E PROFESSOR

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