segunda-feira, 12 de março de 2012

A nobreza da agricultura


A motivação para este artigo partiu da reflexão sobre um assunto noticiado em todo o mundo na semana passada: “A Coreia do Norte desiste de fabricar a bomba atômica em troca de alimentos”. De que adianta treinar os melhores exércitos e investir maciçamente em armas nucleares se o povo não tem o básico, que é alimento? A história das civilizações mostra que grandes impérios sucumbiram em face de adversidades climáticas que afetaram a agricultura, comprometendo a produção de alimentos. Portanto, nenhuma grande potência mundial perdura relegando o setor primário a segundo plano, sendo condição sine quando para o desenvolvimento de uma nação a existência de uma agricultura forte e consolidada. Essa discussão nos leva a pensar sobre as vantagens do Brasil.

A atual conjuntura configura-se como um momento de incertezas globais e crise em vários países da Europa. Apesar deste cenário, o agronegócio brasileiro segue como um dos focos de investimentos de curto e longo prazos e é uma das opções para o capital americano e europeu que busca alternativas de investimento em segmentos e países mais sustentáveis. Neste momento, não existe melhor segmento de negócio para se investir que a agricultura. Os produtores lidam com bens essenciais, cuja demanda segue aquecida, uma vez que o estoque mundial é relativamente baixo para a maioria das commodities. Com isso, uma realidade muitas vezes ignorada pelas autoridades e pela mídia vem à tona: a saga do agronegócio brasileiro é orgulho
nacional. Afinal, não nos destacamos apenas pelo puro extrativismo, pelo talento inato de nossa gente – no futebol, na música e no Carnaval – ou dádivas da natureza - do sol e das praias maravilhosas. Somos imbatíveis também na produção de bens essenciais para a população mundial: alimentos, madeiras, fibras e energia renovável.

Segundo um relatório conjunto da Organização da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a produção agrícola do Brasil deverá registrar o maior crescimento mundial, de mais de 40% até 2019, na comparação com o período 2007/2009. Mesmo diante de perspectivas otimistas e cenário favorável, é necessário enfatizar alguns aspectos sobre a agricultura brasileira, de forma que possamos consolidar este setor importante para a economia nacional. Para aumentar a competitividade do agronegócio é necessário uma cultura empresarial, com conceitos desenvolvidos de qualidade, conformidade a padrões globais, preços competitivos e sustentabilidade ambiental (produtos e processos limpos, com origem e rastreabilidade) e uma visão estratégica de integração de cadeias produtivas. É necessário o desenvolvimento de mecanismos e condições que possibilitem a geração de renda adicional e de novas oportunidades de negócios, com escalas adequadas de produção, especialização, diferenciação de processos produtivos e de produtos, agregação de valor e relações contratuais como prática corriqueira. Neste contexto a agricultura familiar pode desempenhar importante papel na conquista de nichos específicos de mercados, com geração de produtos de qualidade e
criação de marcas diferenciadas, aumentando o nível de emprego e renda no setor rural.

De modo geral, o agronegócio brasileiro possui um conjunto de pontos fracos que limitam o desenvolvimento de todo seu potencial de competitividade. Vale destacar: infraestrutura precária e barreiras logísticas significativas; encargos financeiros elevados; carga tributária elevada; desrespeito a contratos e direito de propriedade; pouca integração das cadeias produtivas. Por outro lado, existem pontos fortes que ajudaram a transformar o país em uma realidade mundial na produção agropecuária. São eles: extensa fronteira agrícola inexplorada; condições climáticas favoráveis e disponibilidade de recursos naturais; capacidade de produção de máquinas e implementos agrícolas; desenvolvimento tecnológico atual; capacidade de gestão e qualificação dos recursos humanos (engenheiros agrônomos, veterinários, zootecnistas, engenheiros florestais, engenheiros agrícolas, técnicos agrícolas, etc.). O agronegócio enfrenta excelentes oportunidades de melhorias em várias frentes, com potencial significativo de ganhos econômicos e sociais. Mas, a inserção
competitiva definitiva de diferentes setores da economia e/ou de regiões produtoras nesta nova economia mundial, pressupõe uma adequada reorganização das políticas e das estruturas produtivas além de posturas e atitudes proativas de todos os atores envolvidos. O setor enfrenta o desafio de crescer, de modo competitivo e sustentável para atender a demanda interna e conquistar e manter espaços no mercado externo, fornecendo produtos e processos de qualidade, com sustentabilidade, origem e rastreabilidade e preços competitivos, pois o desenvolvimento de um país é feito com mudanças políticas, institucionais e estruturais e profundas mudanças tecnológicas nos processos produtivos.




LUÍS GONZAGA M. DE F. JÚNIOR
ENGENHEIRO AGRÔNOMO

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