domingo, 18 de março de 2012

Mau conterrâneo


O ano era 1967, quando arribei de Teresina para Brasília, de carona no sonho alheio, o sonho do meu saudoso pai, que acreditava ser aquela cidade, com apenas 7 anos de existência, o nosso Eldorado, a terra Prometida de todos nós. Desembarquei por lá com apenas 13 anos de idade, com os sonhos e um total desconhecimento sobre o mundão que se descortinava ali na minha frente, vindo principalmente, através da televisão, que vi pela primeira vez e fiquei maravilhado e atarantado, com aquele montão de novas informações que através da antena caía do telhado daquela nossa casinha de madeira, lá na cidade satélite chamada Taguatinga.

Foi nesse mundo novo que Deus colocou na minha cabeça o dom de ser artista, e nas minhas pernas a habilidade para o futebol. E foi assim que tudo começou. Não sei nem se você tem interesse em saber disso, mas eu tenho uma vontade enorme de contar para você. Porque o assunto tem a ver com o amor da gente por esse nosso Piauí sofrido e amado. O dom artístico fez de mim o que sou hoje. Um artista feliz e respeitado pelo povo da minha terra. E a temporada que passei como jogador de futebol no Rio de Janeiro, no início dos anos 70, com 17 anos incompletos, no Olaria do Rio de Janeiro Futebol Clube, deu-me a chance de viver um episódio que fez com o amor pela minha terra explodisse dentro de mim como uma bomba e continuasse queimando até hoje como fogo de munturo.

Éramos 8 jogadores morando na sede do clube, à Rua Bariri, número 251, e eu fui me dar bem mais, justamente com o Hamilton, um mineirinho calado que depois virou meu cunhado, pelo meu namoro que tive com sua irmã Rita, durante umas férias na sua terra natal, Manhumirim, localizada no interior de Minas Gerais. Uai, moço, pense num ‘Fi de Kenga’ mentiroso. Descobri algum tempo depois, após o passe dele ter sido vendido para o futebol paulista, que o peste não era mineiro, e era sim, um “grandissíssimo” fi duma égua. Encontrei por acaso um documento dele perdido e fiquei sabendo que o cabra era meu conterrâneo,
do interior de Simplício Mendes. Olha só que fela da gaita, siô! Os jogadores que já conviviam com ele antes da minha chegada contaram que ele morria de vergonha de ser piauiense e que não perdia a chance de falar horrores sobre a nossa terra e a nossa gente.

Jurei de pés juntos que daquele dia em diante ninguém mais falaria mal do meu Piauí perto de mim. E que se algum dia viesse a ser alguém de expressão, acrescentaria à frente do meu nome o nome do meu Estado, me tornaria Lázaro do Piauí. Assim fiz e até hoje me orgulho desse feito e não me arrependo um segundo de já ter travado homéricos embates defendendo o nosso lugar. Graças a Deus que maus conterrâneos como esse tendem a desaparecer. E nós, eu e você, bons conterrâneos de primeiro escalão, vamos proliferando rapidamente e engrossando o “corso” da nossa auto estima, dando robustez ao amor por nossa terra e nossa gente, enchendo de orgulho de ser piauiense o caminhãozinho de nossa existência.



LÁZARO DO PIAUÍ
ESCRITOR

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