sexta-feira, 2 de março de 2012

Flor sem nome


O versátil repentista José Fernandes de Carvalho (Prata, Altos, Piauí, 1871-Canto Alegre, Altos, atualmente
Coivaras, Piauí, 1944), recitando a oitava (estrofe de oito versos) improvisada, obteve 10 num desafio contra famoso cantador d´outro Estado nordestino. Chico Preto só mela o bico/ No tempo que dá melão./ O rico só lembra o pobre/ No tempo da eleição./ Por isso, quem quiser subir,/ Que suba num foguetão/ E vá roubar no inferno,/ Que é lugar de ladrão”. No fim de tudo, não obteve resposta do desafiante. Conhecido como
“Zé da Prata “, o incrível José Fernandes de Carvalho, enquanto vivo, não encontrou adversários à altura do seu improviso. Além de corajoso, irreverente foi. Por isso, o encantamento no apelido que ganhou antes de morrer. Epíteto que lhe valeu o livro biográfico sob título:

“Prata de Lei”.

O escritor, poeta e professor Anísio Alves (Anísio Alves Pereira: Esperantina, Piauí, 1940), em versos que dignificam a humildade, ressalta a alegria de conquistar a confiança das pessoas. “Presunção não convém/ Não eleva ninguém/ Não é uma virtude/ Nem é quietude./ É um defeito/ Que maltrata o sujeito/ Não é utopia/ Existe em demasia./ “Senso oposto/ Demonstra mais gosto/ Ao homem pertence/ Algo que convence/ Uma boa qualidade/ É a humildade”.

O médico, professor e poeta Durvalino Couto (Teresina, Piauí, 1909-1979), escreveu “Três Cousas”, livro contendo inéditos poemas. O soneto “Teu Sorriso”, exemplo literário, ganhou elogios da crítica piauiense. “O teu sorriso é um cântico de fadas/ Que do céu, langoroso, à terra desce,/ Murmúrio brando e terno de uma prece/ Das virgens de almas puras e enluaradas./ “Teus lábios cor de rosa orvalhadas/ Descerram-se, e ele
límpido aparece.../ Prende-me todo... e na minh´alma tece/ Suas profundas tramas encantadas.../ “Teu riso às vezes, quando se prolonga,/ Nasce em tua boca a chama de uma aurora/ Cheia de paz, teu sonho que se alonga.../ “E tudo sendo em ti luz e harmonia,/ Um desalento na minh´alma chora/ E geme o harmonium da melancolia”.

Nascido e falecido em Barras, Piauí, 1903-1984, Pedro Alves Furtado, poeta e operário, ganhou notoriedade ao escrever o soneto “Manhã”. “Ontem, quando à manhã o sol nascia,/ A natureza estava alegre e pura/ Dava a terra a mais doce formosura,/ Os pássaros cantavam de alegria. / “A brisa perpassando tão macia/ Enchia toda a terra de frescura,/ Estava o mundo cheio de doçura,/ Tudo enfim docemente me sorria./ “Deixando a sós meu pobre e triste leito/ Senti vontade imensa de cantar,/ E fiz este soneto satisfeito./ “Depois, no céu a luz eu vi brilhar,/ Foi quando então senti dentro do peito,/ Da manhã o mais belo despertar”.

O poeta, jornalista e professor Mário Rodrigues Martins (Picos, Piauí, 1903- 1968), no belo soneto “Flor sem nome”, se empolgou com as poesias colocadas no seu livro de 1945, lançado no Rio de Janeiro: “A Evolução da Literatura Brasileira”. “Moça e bela! Bendigo a tua mocidade/ Cujo calor há de aquecer algum ninho,/ Pão e abrigo ainda ser, muito amor e carinho,/ Ser um raio de sol. Resistir-lhe quem há-de?/ “Quantas terras andei sem ter uma saudade!/ Trazia o inverno n´alma e vinha tão sozinho.../ Agora uma ilusão floriu no meu caminho,/ Sinto a razão de ser que a todos persuade./ “Ninguém te quer assim, ó minha doce amiga,/ Como eu te quero e adoro! Escuta-me! Perdoa.../ Pudesse eu te dizer... meu coração que o diga:/ “Eu nunca fui feliz, e és tão feliz... suponho.../ Serás, se fores minha, em sendo meiga e boa,/ A graça deste amor e a glória deste sonho!”




CARLOS SAID
JORNALISTA E PROFESSOR

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