sexta-feira, 16 de março de 2012

Canção da Dor


As poesias de Adail Coelho Maia (São João do Piauí, 1907-1962), apelidado “O Lira do Sertão”, se apresentam organizadas num brilhante opúsculo. No soneto “Canção da Dor”, Adail procurou esquecer a insidiosa doença (tuberculose) que despedaçava o peito cansado de tossir. “Feliz não posso ser, porque a minha vida/ É triste como é triste a cova do mendigo/ Que vive sem carinho e morreu sem amigo/ Sem conforto encontrar, nessa infeliz partida./ “Quisera uma prece à Virgem dirigida/ Alcançar o descanso ao
meu peito inimigo/ Mas, não sei se no céu, um lugar eu consigo/ Onde possa viver a minha alma esquecida!/ “Se procuro esquecer as dores que padeço/ Sofro mais, muito mais e fico perturbado,/ Na loucura da dor que nunca mais esqueço./ “A vida para mim é cada vez pior!.../ Quando a dor é pequena, eu me fico calado!.../ E começo a chorar quando a dor é maior”.

O inestimável Homero Castelo Branco (Homero Ferreira Castelo Branco Neto (Amarante, Piauí, 1944), a fim de preservar a sentença popular “num amigo não se agradece, ama-se”, recolheu de um autor desconhecido o “Poema do Amigo”. Escopo para homenagear as pessoas do seu vasto círculo de convivência útil. “Deus, que na sua sabedoria, criou o amigo/ Alguém em que se possa confiar,/ Um amigo fiel que me compreenda/ E nos estenda sempre a mão para ajudar./ “Ele sentiu que precisamos de alguém/ Que nos confortasse quando estivéssemos tristes,/ Cuja especial ternura e sorriso feliz/ Nos fizessem sentir que vale a pena viver./ “Alguém com quem dar um passeio/ Compartilhar um livro ou um segredo/ Bater papo ao
telefone, mas que também/ Perceba nossa necessidade de estar algum momento a sós./ “Deus criou o amigo para ser/ Alguém quem sempre nos alegramos em rever./ Existem poucas coisas que Deus possa nos dar/ Que signifique tanto como um bom amigo”.

No soneto “Perenidade da Vida”, Fernando Barbosa de Carvalho (Amarante, Piauí, 1891-São Luís do Maranhão, 1972, ilustre poeta e político atuante como deputado na Assembleia Legislativa do Maranhão, período: 1947-1951. E secretário da Educação e Cultura do vizinho Estado), manteve a sua permanência na Academia de Letras do Maranhão. Uma farta inteligência que transformou parâmetros literários entre os acadêmicos maranhenses. “Já no caminho da pesada neve,/ Prévio aviso da fatal partida,/ Não pensemos, no entanto, nem de leve/ Que perto estamos de perder a vida.../ “Ninguém, de fé, por este mundo deve/ Chorar, da vida, a sua despedida;/ Não é a morte, como se descreve,/ A vida, para sempre, destruída./ “Vaise da terra, despe-se a matéria;/ Deixa-se, assim, a vida deletéria,/ Para a vida de luz da eternidade./ “Livre da terra, amando só o bem,/ A alma será, lá no país do além,/ Só amor, só doçura, só bondade!”.

O imortal H. Dobal (Hindemburgo Dobal Teixeira: Teresina, Piauí, 1927-2008), em “Introdução e Rondó Sem Capricho”, trabalho literário de 1997, ganhou elogios dos acadêmicos da Academia Piauiense de Letras (data de fundação: 30 de dezembro de 1917), em face de sua briosa autenticidade. “Os novilhos do agreste/ Só têm chifres e culhões./ Os boizinhos do agreste/ Estão na pele e nos ossos./ “As terras pobres do Piauí./ Cupins cupins./ Nestas chapadas/ Corcoveadas de cupins,/ O capim ageste não dá sustança,/ O gado magro mal se mantém./ Nestas trilhas de areia as seriemas/ Procuram cobras. E cantam/ Os seus dias de fogo. Dão as faveiras/ Sua sombra aos formigueiros/ E os dias magros ao homem/ Sua quota de vida”.




CARLOS SAID
JORNALISTA E PROFESSOR

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