sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Alvorada e crepúsculo


Na resplendente solenidade literária da última terça-feira, 24 de janeiro de 2012, promovida pela Academia Piauiense de Letras (data de fundação: 30 de dezembro de 1917), dois episódios marcaram o caráter solene do sucesso. Além da recondução de acadêmicos aos quadros da diretoria do mais importante sodalício que também atende pelo nome: “Casa de Lucídio Freitas” (Teresina, Piauí, 1891-1924, um dos fundadores da APL), ilustres personagens foram nobilitados com medalhas e diplomas de merecimento cultural, concessão levando o nome de Lucídio Freitas. Portanto, em clima festivo, personagens como a jornalista Isabel Cardoso de Melo e o médico José Itamar Abreu Costa – entre outros - foram incorporados ao panteão
literário do Piauí. Esclarecemos que Itamar Abreu Costa por formação científica na área cardiológica, encontra-se na presidência da Academia de Letras do Vale do Longá (data oficial de fundação: 23 de setembro de 1984).

Nos exuberantes versos, todos lapidados pelo insigne pota Hardi Filho (Francisco Hardi Filho: Fortaleza, Ceará, 1934), academicista pertencente aos quadros da Academia Piauiense de Letras, existem razões com as quais consideramos Hardi Filho como privilegiado trovador do Piauí, embora tenha nascido na capital cearense. A peça literária: “Alvorada e crepúsculo” é de suma importância para que nos empolguemos com a magnitude das afirmações do dono de mais uma poesia comovente. “Enquanto o sol se erguia no horizonte,/ Untando o chão de claridade quente,/ Na linha terra- céu um rumo insone/ Logo surgiu sem sombra em minha frente./ “Vendo no amor inesgotável fonte,/ Entusiasmado caminhei contente/ Atravessando vaus, e amando ardentemente!/ “Rumo de amor, é certo, não tem fim./ Vou em frente na excelsa caminhada/ Que tem agora uns tons de nostalgia./ “O sol quase a se pôr atrás de mim,/ Estira minha sombra pela estrada.../ Como se apenas fosse o fim do dia... “

O poeta Altevir Alencar (Altevir Soares Alencar (Alto Longá, Piauí, 1934) dono duma fé inquebrantável, escreveu quatorze versos (soneto), endereçando-os ao Criador do Mundo. “Cada nuvem que passa é um céu que vai descer/ Sobre o mundo interior das almas compassivas./ Vive o amor, esse amor que vem das coisas vivas/ E alimenta sorrindo a angústia de viver./ “Súplicas, ais, queixumes, prantos, rogativas,/ Tudo ecoa à voz do mundo a se mover./ Desça o raio febril que dá existência ao ser,/ Como um sopro de paz nas emoções altivas./ “O gemido da terra é o gemido das vagas.../ Quanta vez a pensar, o homem se tortura/ Vendo plagas no chão, vendo no oceano plagas!/ “E maldade infeliz que achata este universo?/ N´alma de cada poeta há no mundo de ternura,/ Há um pedaço de Deus dentro de cada verso!”
 
O advogado Francisco de Almeida, residente em Teresina, capital, responsável pelos negócios da União em território piauiense, definiu a palavra felicidade com uma sabedoria ímpar. “Felicidade não é alvo/ Que se deseja alcançar./ É um sistema de vida/ Incluindo o nosso lar./ Não é ida nem chegada;/ É o nosso caminhar”.

Em Alvina Fernandes Gameiro (Oeiras, Piauí, 1917-Brasília, Distrito Federal, 1999), a sua confissão sobre o amor é inquestionável. “Eu te amo igual ao sol, que acorda o firmamento/ Na alvorada febril da aurora renascida,/ Escrevendo, com luz todo o deslumbramento/ Da festa triunfal que gera a cor e a vida./ “Chamo-te como o poeta invoca o pensamento,/ Na ânsia de deslumbrar a rima preferida, / A pintar o esplendor que adorna o sentimento,/ Com palavras fiéis à imagem concebida.../ “Eu te amo assim, com toda esta forte paixão,/ Que faz lembrar o oceano a chorar entre escolhos/ E, às vezes, se assemelha à fúria de um tufão.../ “Eu te quero e este afeto é comoção tão forte,/ Que aos lábios me traz riso e me traz pranto aos olhos/ É taça onde, a beber, eu sorvo a vida e a morte...”



CARLOS SAID
JORNALISTA E PROFESSOR

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