sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Ensino superior das classes C, D, e E


Em 2 de dezembro de 2011 o jornal Folha de São Paulo publicou a seguinte manchete: São Paulo reduz aulas de História, Geografia, Português e Matemática a partir de 2012, em 25%, em 14%, em 8% e em 17%, respectivamente, no período diurno. O objetivo da redução da carga horária nas disciplinas em questão é introduzir na estrutura curricular da rede estadual as disciplinas de artes, filosofia e sociologia. A medida não só comprometerá ainda mais o desempenho dos alunos das escolas públicas nos exames vestibulares, em relação as escolas particulares, como também trará para as universidades, voltadas para as classes C, D e E, discentes cada vez menos preparados. Ingressantes que não compreendem os textos científicos e, consequentemente, que não sabem redigir, a exemplo de algumas frases aqui transcritas, retiradas de provas realizadas por estes alunos, em diversas faculdades e universidades particulares de São Paulo: 1. Pois mesmo que estejamos no era da globalização por meio de uma simples cultura retomaremos assim trazendo crenças e tradições passadas. 2. Para Celso Furtado visa apenas a mamficação da Indústria e da Educação. 3. Pelo fato que nas origens o Brasil poderá ter como ideia sobre o pensamento que eles tinham antes para ter agora.

Frases incorretas, carentes de lógica: verdadeiros horrores! Triste realidade brasileira. Lamentável é constatar que estes futuros profissionais, já em anos adiantados das universidades, não serão alocados no mercado de trabalho de acordo com as profissões escolhidas. Teoricamente, ao findarem os cursos, deveriam estar aptos para ingressarem no mercado e dar continuidade a suas carreiras. Infelizmente, não conseguirão, porque lhes falta lastro intelectual.

Razão pela qual bacharéis em Direito não são aprovados nas provas da OAB, engenheiros vendem cachorro quente, enfermeiros são auxiliares de enfermagem, administradores são vendedores, no máximo supervisores em lojas de varejo. Forma perversa de exclusão social, principalmente, em era global. Não nos iludamos com o crescimento econômico recentemente alardeado pela mídia. Crescimento econômico não é sinônimo de desenvolvimento. Desenvolvimento econômico sustentado por commodities não existe. É frágil! A história comprova isso. Sabemos que por quase quatro séculos a produção de açúcar no Brasil foi o sustentáculo da nossa economia. Condição que contribuiu para continuarmos economicamente dependentes da exportação de matérias-primas e da importação de tecnologia; além de corroborar com a manutenção de uma estrutura patriarcal, propicia a não ruptura com essas estruturas passadas, e, consequentemente, a não valorização do saber científico.

No dia 17 de janeiro de 2012 foi noticiada a desaceleração do PIB da economia da China: de 9,1% no trimestre anterior, para 8,9% no último trimestre. Essa perda de velocidade do crescimento do PIB chinês será sentida na balança comercial brasileira porque, segundo os dados da Associação de Comércio Exterior do Brasil, a China compra 17,3% do total das nossas exportações de commodities, principalmente, de minério de ferro e soja. Não há dúvidas, além das questões econômicas de dependência, que o maior malefício legado pela condição de colônia foi o descaso do Estado brasileiro em relação à educação. E por que não falar também em descaso do povo, que continua atribuindo somente ao Estado todas as responsabilidades em relação a qualidade de ensino? Aliás, um Estado ainda patriarcal, no tocante às ações voltadas à melhoria do bem-estar social. Estamos a parque na sociedade pós-industrial tem poder e tem capital quem tem conhecimento formal. Portanto, a não preocupação com a qualidade da educação, voltada para as classes C, D e E confirma a distância que existe no Brasil entre ricos e pobres e que estamos longe de alcançarmos um bem-estar social geral: o novo socialismo. As divisões entre os grupos sociais com interesses divergentes são nítidas, principalmente, no tocante ao nosso sistema educacional.





ZÓIA VILAR CAMPOS
PÓS-DOUTORA PELA US

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