quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Nossas praias


É lamentável a situação das praias piauienses. Não sou um conhecedor profundo do litoral brasileiro, mas conheço todo ele e um pouco de outros continentes. Mesmo não sendo piauiense, e tendo morado à beira-mar e vivido por mais de 20 anos no litoral pernambucano, vejo o do Piauí como um dos mais belos do mundo. Praias planas, mar tranquilo, águas mornas, claras, transparentes, brisa suave e paisagens deslumbrantes. Entretanto, alguns frequentadores perturbam este esplendor. Assistimos aos maiores descalabros quanto à convivência social: alguns idiotasurfistas, confundindo-se com os windsurfistas, desafiam a possibilidade de degolar uma criança ou um adulto que desfrutam da tranquilidade das águas do mar. O litoral possui 66 km de extensão, mas os idiotasurfistas têm que desfilar exatamente onde estão os banhistas. Esta situação me lembrou meu irmão Marcos, sempre gozador e prático, quando eu criticava os idiotas da praia de Boa Viagem, em Recife, que usavam jet-skis praticamente em cima dos banhistas.
Ele dizia: “Idiota és tu. Tu achas que o cara compra caríssimos jet-skis para andar onde não tem ninguém para ver? Ele quer é aparecer para todo mundo. Não está preocupado com mais ninguém, não pensa no acidente que pode provocar”. Tinha razão. Os idiotasurfistas se comportam como os idiotasjetskinianos. Não estão nem aí para as crianças que se divertem à beira-mar e/ou seus familiares. E os militares em seus possantes triciclos que também desfilam nas praias? Como justificar a vultosa aquisição dessas máquinas se eles próprios ficam apenas a desfilarem nas areias? Será que não enxergam esses idiotasurfistas? Não sou contra o windsurf (esporte), até fico orgulhoso quando o Piauí integra o circuito nacional dessa atividade, já que tem grandes “caras” nesse esporte, mas acho, como deve ser a orientação dos esportistas, que deve ter local apropriado para sua prática, e não em desfile, ziguezagueando entre banhistas.

E os carrões na praia? Raramente não desce daquele possante carrão um baixinho barrigudo e prepotente. Não é preconceito contra baixinho. Meu maior amigo é baixinho e tem uma Hilux, mas é uma grande personalidade e me orgulhoso dele. O que incomoda, e não só a mim, com certeza, é a falta de respeito com os outros. Desfilam nas areias na eminência de atropelar uma criança que corre, repentinamente, em direção ao mar. E quando estacionam têm que ligar o “som”. E as músicas, obrigatoriamente, têm que ser de mau gosto. Os bares até financiam (ligam) o som em seus quiosques, mesmo que tragam, não raras vezes, isopores cheios de whisky, cervejas e tira-gosto. Não vendendo nada para eles, os donos dos bares têm que
“tirar” o lucro dos outros frequentadores, daí o absurdo dos preços, até mesmo do prato mais famoso (ou único?) naqueles bares: o pargo frito com batatas. Outra opção na praia: o passeio a cavalo. Sobre o risco à saúde humana, o prof. Nicodemos já escreveu, mas enfatizo o bem-estar do animal. Coitados, obrigados a fazer aquele passeio. Observa-se claramente que carecem de saúde. Raquíticos, atrofiados, desnutridos. Porém, são submetidos a forte carga de trabalho, sem alimentação, água e sob chibata.

Percebe-se, às vezes, que os usuários dessa cavalgada são verdadeiros vaqueiros, que andariam até sem sela, mas se expõem ao ridículo, como se passeassem pela primeira vez, e forçam as crianças ao passeio.

Há quem defenda o emprego dos donos dos cavalos. É visível a necessidade de emprego, pois vê-se que a saúde dos mesmos não difere da dos animais. Não poderiam ser “vigilantes” das praias, tornando-as mais agradáveis aos que querem apenas desfrutar do paraíso litorâneo? Teriam um salário que permitiria cuidar melhor de si, sem exploração do cavalo. Não era preciso nem um triciclo, mas um uniforme e delimitá-los em áreas específicas, próximo as suas casas, se fosse o caso, para fiscalizarem as praias, evitando-se os idiotasurfistas, o baixinhos prepotentes, os cãezinhos correndo, etc. Acredito que nossos impostos permitiriam isto. Que atividades sem graça nas praias. Se insistem nessas práticas não se poderia delimitar espaços para elas? Que usuários de carrões tenham uma praia exclusiva, para disputar seus péssimos
gostos musicais e o carro mais possante. Que os idiotasurfistas realizem suas manobras radicais em locais apropriados. Esperamos que isto não se repita no carnaval, quando só de turistas já será um sufoco, e que os transtornos, ainda não minimizados, sejam só por conta do número de visitantes e não pela falta de educação destes



PROF. DR. RÔMULO JOSÉ VIEIRA
MÉDICO VETERINÁRIO

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