sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Espelho da Verdade


Na segunda-feira, dia 16 de janeiro de 2012, a professora, poetisa e escritora Maria Nerina Pessoa Castelo Branco (Teresina, Piauí, 1935),numa solenidade de louvação realizada no Cine-Teatro da Universidade Federal do Piauí, recebeu o título de “Professor Emérito” (sic), prova inconteste do reconhecimento unânime pelos relevantes serviços prestados à cultura piauiense. Inegavelmente, Nerina Castelo Branco é, não há negar, luzidia acadêmica pertencente aos quadros da Academia Piauiense de Letras (data de fundação: 30 de dezembro de 1917). Eis, agora, exemplo de sua fecunda inteligência: “O Encontro do Nada”. “Porque procurei a vida toda/ Aquilo que não pude encontrar/ Hoje, sem esperanças – nenhuma luz verde em meus caminhos,/ Estou farta desta interminável procura,/ “Que vai sempre de encontro ao nada!/ É possível assim tanta doçura,/ Extravasarse ao leu das coisas,/ Sem ritmo, sem objetivo, sem nada, enfim?/ “É possível entregar-se então ao extermínio,/ Desmaterializar-se o corpo quando no final da vida, / Sem levar desta vida uma lembrança?/ “É possível, sim. É a verdade das coisas/ Uma profunda confusão. E os complexos...?/ Tudo assim, ânsias. Ao encontro do nada...”

Em 1919, na Revista da Academia Piauiense de Letras, um ano após a fundação do importante sodalício pelo crivo de Lucídio Freitas (Teresina, Piauí, 1894-1921), Odorico Castelo Branco (Teresina, Piauí, 1876-Fortaleza Ceará, 1921), publicou o notável soneto “Rumando ao Fim”. “Viagem longa e muito acidentada/ Venho fazendo pelo mar da vida,/ Onde mais de uma vez julguei perdida/ A miserável nau desconjuntada;/ “ - Já de medonha, rígida, nortada,/ Levando leme e panos sacudida;/ Num abismo sem fundo remetida;/ Ou no dorso das ondas levantada./ “E se, triunfante sempre da procela,/ Sem bússola e sem leme e sem faróis,/ Por esta altura, enfim, cheguei com ela;/ “Irado ruja o mar, ronque a tormenta,/ Que ao termo, agora, há de
chegar veloz/ Quem a cabo dobrou já, dos anos quarenta”. Esclarecemos: Odorico Castelo Branco, sensível a tudo, empregou as palavras: nortada” e “procela”, intuindo que devemos saber “nortada” como vento frio e/ou áspero que sopra do norte. E “procela”, como tempestade marítima.

O jornalista e poeta Osires Neves de Melo (Teresina, Piauí, 1905-Piripiri, Piauí, 1964), comparando o seu destino ao de uma rosa vermelha, marcou o subjetivismo através de rutilantes versos. “Rosa vermelha, rubra, emurchecida,/ Atirada a meus pés por mãos piedosas,/ Eu te contemplo as pétalas formosas,/ No último instante de deixar a vida./ “Rosa vermelha, lânguida, ferida,/ Apertada nas minhas mãos nervosas,/ Pendes como uma flor triste e vencida!/ “Eu também como tu, na vida inglória,/ Tive em tempos risonhos e felizes,/ Meus momentos supremos de vitória!/ “Brilhei! Não tinha fundas cicatrizes!/ Hoje só se resume a minha história,/Na tristeza das almas infelizes!...”

A extraordinária escritora e poetisa Ana Clélia Basílio Napoleão do Rego (Teresina, Piauí, 1936), tal como a vidente que nunca escondeu os momentos da explicação sobre a vida (presente e futuro), travou o seguinte diálogo com o “Espelho da Verdade”. “Ó espelho,/ Tu és cruel,/ Por que não mentes?/ Nem sempre queremos saber a verdade/ E tudo refletes fielmente/ O legado que o tempo nos deixa.../ E o tempo é malvado/ Deixa marcas profundas em nossa face,/ Em nosso íntimo, em nossa vida.../ “Sai espelho,/ Sai de minha frente!/ Não quero que tu me mostres/ Aquilo que não quero ver”.




CARLOS SAID
JORNALISTA E PROFESSO

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