quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Sertões de Bacharéis


O dedicado historiador Jesualdo Cavalcante Barros (Corrente, Piauí, 1940), dono de extraordinária memória e perspicaz nas pesquisas, é portador da mais significativa percepção pelo que ocorreu no período das oligarquias que se notabilizaram no poder político do Piauí, exatamente no período mais afetado das divergências partidárias, entre 1759 e 1889 (130 anos acorrentando a Capitania às oligarquias através de grupos políticos atrelados aos governadores). Logo após o surgimento do Império, apareceram as nomeações dos presidentes de Províncias. Os que chegaram por aqui, oriundos de várias partes do Brasil, agasalharam as oligarquias. O atraso se alastrou por todas as regiões do Piauí e a ganância dos oligarcas
aumentou consideravelmente, até mesmo com a proclamação da República. Enfático, Jesualdo Cavalcante Barros não titubeou. Escreveu o livro “Sertões de Bacharéis” e se tornou mais moço pela fé demonstrada em
desejar o Piauí sempre capaz e robustecido em seu passado histórico.

Relembrou os exemplos da conquista árabe na Península Ibérica (Espanha e Portugal), auge da civilização islâmica:


“Os que nunca fizeram coisa alguma somente conseguem ver o que está para ser feito”. Por conseguinte, “Sertões de Bacharéis” é o livro que mais - verdadeiramente - apresentou os dois momentos marcantes do Império; de 1822 a 1840 (Pedro I e as Regências) e os 49 anos da presença de Pedro II). Evidentemente, entre uma e outra fase, não houve interesse em debelar as oligarquias que por aqui se constituíram e fortaleceram os interesses de importantes famílias. Os dissabores e as contrariedades registradas na Província já combalida aumentaram o ranço e a luta partidária. Sabemos até que João Pereira Caldas, português (Cambeses, 1736-Lisboa, 1794), primeiro governador da Capitania, esteve mais interessado no sequestro
dos bens dos jesuítas após a expulsão de todos eles. Ademais, as lutas entre políticos criando situações drásticas e a presença de grupos familiares famintos pelo poder, propiciaram ainda mais a escassez de honestidade e a dilapidação do erário público. Nas etapas dos governos provinciais, as Juntas de 1821 e 1824, começaram por admissibilidade na ascensão política de Manoel de Sousa Martins, o agraciado Visconde da Parnaíba (Oeiras, Piauí, 1767-1856), levado à presidência da Província. À frente do governo, logrou com mão de ferro conduzir a sua administração no mais longo período de governança.


Com o advento da República transformando oficialmente o Piauí em Estado, conforme os dizeres do Governo Provisório de 1889, instalado no Rio de Janeiro, o último a presidir a Província foi Lourenço Valente de Figueiredo, de 12 de outubro a 15 de novembro. A indicação do militar Gregório Taumaturgo de Azevedo (Barras, Piauí, 1853-Rio de Janeiro, 1921), para governar o Estado, deixou o governante desesperado. No dia da posse, 26 de dezembro de 1889, encontrou o Estado falido. Digamos, arruinado. Ademais, as competições de mando se tornaram mais eficientes. As refregas envolveram os partidos políticos atiçando inimizades. O governo se omitiu e a baderna atingiu as denominadas ilustres famílias piauienses. A consolidação do triunfo dos mais espertos apressou o renunciamento de Taumaturgo (4 de junho de 1890). As oligarquias se fortaleceram mais e mais. E o nepotismo tornou patente a presença da parentada. Assim, e no trajeto dos 130 anos: 1759 a 1889, Jesualdo Cavalcante Barros desenhou com clarividência as atividades dos bacharéis piauienses que obtiveram diplomação nas Faculdades de Direito (Olinda, Recife e São Paulo). Reforçou a sua narrativa sobre o parentesco entre políticos, famílias ilustres e governantes da nossa terra. Ressaltou o apoio dos oligarcas ao êxito eleitoral e na formação de administrações de intimidades que, por meios escusos, se direcionaram para os negócios públicos.


Portanto, entre as paixões e as vaidades emborrachando partidários em grupos enraizados nos comprometimentos familiares, nada melhor do que “Sertões de Bacharéis” para consolidar o arrazoado sobre o batalhador Jesualdo Cavalcante. Sempre entranhado nas polêmicas que encontrou desde quando se arrojou a mostrar sustança no ajuntamento de documentos históricos, nada comprometerá a sua ousadia em ser o melhor na pesquisa, na prova documental e na textualização dos episódios (as versões divergentes doutros historiadores não conseguirão rechaçar o intento nobre do inflamado correntino. Como nada se perdeu nas explicações, o livro é uma vertente sinuosa do que ficou enfronhado no poder político do Piauí, de 1759 a 1889).



CARLOS SAID
JORNALISTA E PROFESSOR




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