quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Separatismo e descontentamento


Uma sondagem do Instituto Datafolha mostra que 58% dos eleitores do Pará estão contra a divisão do Estado para a criação de duas novas unidades da Federação: Tapajós e Carajás. Essa diferença em boa parte resulta do fato de que a consulta plebiscitária não mais circunscrever-se às áreas a serem separadas.
  
O cenário eleitoral aponta para uma enorme possibilidade de naufragarem as pretensões separatistas de parte do Pará. Resulta essa diferença de um menor peso do eleitorado das áreas que buscam autonomia administrativa – situação que certamente se repetirá em todos os Estados onde há áreas com pretensões secessionistas, como é o caso do Piauí.

Uma bastante provável derrota dos separatistas no Pará poderá esfriar os ânimos separatistas Brasil afora, mas certamente não vai acabar com as motivações que levam gigantescos nacos estaduais a buscar desligamento de seus Estados: falta de investimentos, ausência do Estado na vida das pessoas, abandono – para usar uma expressão que sintetiza bem o sentimento das pessoas.

Um eleitor piauiense que mora em Corrente, nas Chapadas do Extremo Sul do Piauí, em Bom Jesus ou em Uruçuí certamente vai se considerar um cidadão de segunda linha em face de indicadores como o de qualidade da energia: até 57 horas por ano sem energia é ‘normal’ na região, diz a agência reguladora do setor – Aneel. Ora, nessas circunstâncias é difícil não ver legitimidade no descontentamento das pessoas. E a energia é apenas um dos fatores da ausência ou da má qualidade dos serviços públicos oferecidos naquelas regiões de Piauí esquecido.

O legítimo descontentamento das pessoas deveria se prestar a dois movimentos convergentes: canalizar as energias desta insatisfação para uma luta mais pragmática no sentido de ampliar os investimentos públicos na região mais ao Sul e Sudeste do Piauí, bem assim provocar no poder público (aqui é preciso incluir todo o governo e não apenas o Executivo) uma ação voltada para reforçar serviços e obras no gigantesco espaço geográfico que se quer converter no estado do Gurgueia.

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