segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Que nem cego em tiroteio


Certa vez, lá pelos anos 70, ainda bem jovem, é claro, conversando com um perito em segurança, lá no Rio de Janeiro, ele me disse que segurança era ilusão de ótica. Que segurança, por mais bem-feita que seja, não evita o crime, no mínimo dificulta. E que, se o criminoso estiver determinado a matar alguém, ele termina conseguindo.

Aquela conversa dele foi me deixando nervoso, confuso, cagado de medo. Ora vejam só. Raciocinem comigo. Um cabra que tinha acabado de chegar do Piauí, matuto até o rastro, o lugar mais longe que tinha ido era a cidade de Altos, solto na buraqueira da cidade tida como a mais violenta do Brasil, fica ou não fica com a cachola pegando fogo? Não me contive e pedi a ele que explicasse de forma mais clara, porque estava apavorado com o quadro aterrorizante que ele estava pintando, sendo ele um homem da lei.

E que se aquilo fosse do jeito que ele estava dizendo, eu picaria a mula de volta para o meu Estado bem “ligeirim”.

E se assim fosse, gostaria que ele tirasse uma passagem pra mim, numa viatura policial, para me trazer de volta, urgentemente pra minha terra, pois aqui sim era lugar bom, de paz, sem violência. Ele me contou uma operação policial realizada sob seu comando. Como a história é muito comprida, vou resumi-la. Pela grandeza do evento ele precisaria de no mínimo 100 viaturas para realizar o seu trabalho com sucesso. Pois bom, como no nosso Brasil tudo quase sempre é : não tem, já teve ou ainda vai ter, ele só podia contar com 40. O que ele me disse que fez? Existia uma quantidade muito grande de carros sucateados. Ele mandou pintar todos, até os que não tinham motor, e espalhou os carros na beira da estrada, por onde a comitiva ia passar. Um mês antes mandou a mídia espalhar que, carros novos, comprados ou vindos de outras cidades,
iriam reforçar a segurança. Foi um espanto a redução de casos de violência no final do evento. Aí ele perguntou, entendeu Piauí ? “As pessoas precisam de segurança. Agora mais do que isso. Precisam sentir a sensação de segurança, precisam sentir a presença das instituições que existem e recebem recursos nossos para realizar tal serviço”. E aí continuou: “ Você não imagina a quantidade de vagabundos, marginais, delinquentes e desocupados, que não se motivaram para ir ao evento, cometer delitos. A conversa daquele perito ainda fervilha na minha cabeça, ainda mais quando percebo veracidade de suas palavras.




LÁZARO DO PIAUÍ
ESCRITOR

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