sábado, 8 de dezembro de 2012

Um sistema saturado


Não é de hoje que se sabe que no Brasil vão de mal a pior os serviços de emergência e urgência médicas, em um nível de saturação que preocupa e, mais que isso, maltrata o usuário – inclusive dos serviços privados, o que denuncia de certo modo uma inversão de prioridades.

Em qualquer cidade brasileira, essa incômoda realidade somente tem mudado para pior. Pode-se dizer que este seja um problema típico de uma gestão pública desinteressada e inepta. Não é. Mesmo nos serviços médicos privados de urgência e emergência, a situação piora a olhos vistos.

O que tem concorrido para que unidades hospitalares como o Hospital de Urgência de Teresina (HUT) estejam sempre produzindo cenas dantescas de gente espalhada pelo chão não é somente a má gestão nesta área específica da saúde pública. Resulta a superlotação e a demanda crescente pelos serviços de urgência do não funcionamento da atenção básica. É na falta de atendimento não emergencial que está o nó górdio da piora recorrente e crescente dos serviços médicos de urgência e emergência.

A atenção básica – atendimento ambulatorial, consultas, exames – segue ruim no sistema público (SUS) e cada vez piorando na saúde complementar (planos de saúde), em um ciclo nada virtuoso no qual estão descontentes os usuários, os prestadores de serviço (médicos, estabelecimentos hospitalares), as operadoras de planos de saúde e, claro, o próprio Estado, incapaz de impor a si mesmo uma rotina de mais eficiência na gestão da saúde pública.

O que está ocorrendo é algo bem simples: sem que o SUS ou os planos de saúde apresentem meios para um atendimento ambulatorial satisfatório e ou mesmo possibilite as seus usuários/- clientes acesso a cirurgias eletivas e internações, os pacientes passam a usar os serviços médicos de urgência e emergência como porta de entrada em hospitais.

Bem, o que decorre disso é um desvirtuamento desses serviços. O Hospital de Urgência de Teresina é um exemplo bem-acabado disso. Seus leitos não deveriam ser ocupados por longos períodos ou por pacientes crônicos. Mas é cada vez maior o número de internações por longo tempo e de pacientes já saídos da condição de crise, o que sobrecarrega o hospital. Isso ocorre em todo o país no setor público e agora também em estabelecimentos privados, deixando evidente que o sistema só vai piorar se o país não conseguir melhor a atenção básica em saúde.

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