quinta-feira, 22 de março de 2012

Bebida e hipocrisia


A discussão que se trava no âmbito do governo – Congresso Nacional e Executivo – sobre a liberação da venda de bebidas em estádios durante jogos da Copa do Mundo mais parece um exercício do que se pode chamar de hipocrisia institucional. Todos os que se esforçaram para trazer para o Brasil o megaevento futebolístico global sabiam que a relação comercial da Fifa com cervejarias é antiga e não poderia ser ignorada nas tratativas para a realização da Copa.

O que se percebe claramente agora é um recuo envergonhado. Claramente o país aceitou as regras de um
jogo e depois veio a perceber que existiam mecanismos impeditivos a esse aceite, quais sejam, dispositivos legais que proíbem a comercialização de bebidas nos estádios. Então, que se removam os dispositivos, ainda que restritivamente ao evento.

Mas além da hipocrisia institucional, o país precisa parar de fingir que a sua legislação é uma coisa eficiente. Não é.

A proibição de venda de bebidas em estádios é uma medida para inglês ver, porque verdadeiramente ela
não impede o consumo. No entorno dos estádios se vende bebida e não existe fiscalização que consiga barrar o acesso de bebidas às praças esportivas.

Pode-se alegar que a concessão para a Fifa é um precedente perigoso. Nova argumentação hipócrita, porque mais importante que a proibição da venda de bebidas em estádio seria a publicidade e faz bastante tempo que no Congresso Nacional não se move uma palha para votar uma legislação que vede publicidade de bebidas alcoólicas.

Se o Congresso nem o governo se mexem para proibir a publicidade de bebidas alcoólicas, parece bastante razoável que seja condescendente com a liberação pontual da venda durante a Copa, cuja realização entra em um perigoso processo de risco por causa do estica-e-puxa em que se converteu a discussão sobre seu marco regulatório.

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