quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Muito além da tarifa


O transporte público seguramente vai ser tema essencial na campanha eleitoral deste ano, pelas razões bastante óbvias de que esse é um problema urbano cuja solução precisa ser levada a efeito o quanto antes e o tempo inteiro.

Porém, é bom que a discussão não fique na superfície do valor da tarifa – que tem sido um instrumento para demagogos em geral se firmarem como personalidades públicas e, eventualmente, auferirem dividendos eleitorais.

O problema de transporte público no Brasil é relegado a um patamar sem importância há pelo menos três
décadas .

E olhe que nos anos 70 o ex-presidente Ernesto Geisel criou uma estatal somente para cuidar do tema, a EBTU – Empresa Brasileira de Transportes Urbanos – que fez uma carreira bastante comum a outras companhias do Estado: virou cabide de emprego.

Como não houve uma ação articulada entre os três níveis administrativos para dar soluções eficientes ao transporte coletivo urbano, construíram-se as alternativas possíveis. A classe média optou pelo transporte individual, as empresas de transporte trafegaram na estrada das relações nada ortodoxas com políticos locais e uma parcela enorme da população começou a usar meios alternativos para se deslocar – uma parte dela fazendo percursos a pé.

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicacada (Ipea) divulgado em maio do ano passado mostra que a maioria dos brasileiros anda mesmo é a pé ou de bicicleta. Nas cidades com mais de 60 mil moradores, 38% das pessoas se locomovem a pé e 3% se transportam em bicicletas. São 60,6 milhões de deslocamentos/dia pelos dados da Associação Nacional de Transportes Públicos.

Diante disso, depreende-se que uma das estratégias para melhorar o transporte público urbano é ampliar a demanda. Porém, antes disso é preciso oferecer serviço de melhor qualidade, o que inclui a realização de obras de engenharia que facilitem o tráfego de ônibus e trens urbanos, bem assim possibilitem que os dois modais se complementem.

Não podemos, com efeito, limitar as discussões do transporte coletivo ao custo da tarifa. É necessário evoluir para soluções que incluam mais pessoas usando ônibus, trens e metrô, além de se pensar em reduzir o uso do transporte individual – que ocupa espaços em ruas, reduz fluidez e, certamente, é um componente que compromete a qualidade do transporte coletivo.

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