domingo, 29 de janeiro de 2012

Menos governo


E isso pode representar um alto preço a ser pago O Brasil vive um momento econômico apropriado inaugurado quase 18 anos atrás pelo ex-presidente Itamar Franco – que assinou o Plano Real e deu início a uma era de estabilidade e mais prosperidade. Se a economia andou bem, na política o país viu consolidar um regime democrático, mas isso não parece representar um ganho.

A democracia pressupõe não um sistema em que a população vai às urnas regularmente. Eleições são um coroamento do processo contínuo de respeito às leis, de transparência na aplicação de recursos públicos, de
prevalência do público sobre o privado, do coletivo sobre o individual, do republicanismo sobre a conivência e a omissão.

Não se pode querer que o país crie uma concertação a partir da hegemonia de um partido sobre todos os demais, com um deliberado sufocamento da oposição parlamentar e midiática. Quanto mais governo se tem e menos oposição se ouve, pior é a qualidade da democracia que teremos. E isso tem um preço não apenas político, mas também econômico, porque as decisões, sem crítica dentro e fora do governo, terminam não sendo as melhores.

O Brasil de 2012 precisa, sim, de mais oposição – como era o Brasil de 1994 em que o Partido dos Trabalhadores foi capaz de ficar contra o Plano Real e, antes disso, contra a Lei de Responsabilidade Fiscal. Podem ter sido posturas equivocadas, então, como depois se evidenciou, mas foram posições que demonstraram a necessidade de não haver no país uma corrente político-ideológica majoritária para dizer ‘sim, senhor!’ e outra, minoritária, para dizer ‘não, senhor!’ Nunca como agora o Brasil precisa de oposição. Não se trata de um devaneio sem pé nem cabeça como as proposições anarquistas e afins de partidos ultraesquerdistas. Trata-se, sim, de uma necessidade da democracia: quanto mais houver vozes altivas e ativas no flanco oposto ao de quem governa, mais o governante vai agir para não errar. Se, ao contrário, a oposição silencia, quem governa não perceberá que erra, porque seguirá, no mínimo, uma lógica do senso comum, segundo a qual, quem cala, consente.

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