sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Colheita de Ilusões


O poeta Oliveira Neto (Carlos Ferreira de Oliveira Neto: São Raimundo Nonato, Piauí, 1907-Teresina, Piauí, 1983), através do fulgor da sua intelectualidade, definiu saudade vislumbrando o passado como vinho que é doce mas embriaga a lembrança. “Saudade é para quem ama,/ Distante da bem amada/ Saudade brasa da chama/ No final de uma queimada”.

Em “Colheita de Ilusões”, o consagrado poeta João Porfírio de Lima Cordão (Itaporanga, Paraíba, 1923-Teresina, Piauí, 2003), revela que para ser um bardo, há necessidade da publicação duma formidável e bela poesia: “Ser poeta é sentir a dor alheia/ Como se fosse a sua própria dor./ É saber que a virtude do amor/ Está em perdoar a quem odeia.../ “ E saber que o castelo de areia/ É construído pelo sonhador/ Que não
acha na vida o esplendor/ Que sua alma sofredora anseia. / “E saber transformar o irreal/ No seu mundo de encanto colossal,/ E nele viver bem seu dia a dia/ “E saber cultivar com santa calma/ A mensagem da musa em sua alma,/ E tê-la sempre como eterno guia”.

O fantástico Martins Napoleão (Benedito Martins Napoleão do Rego: União, Piauí, 1903-Rio de Janeiro, 1981), viveu intensamente o amor e, com a sua genialidade poética, escreveu: “Beijei a vida e fui divino, amando./ (A Terra, cheia de homens imortais,/ Quando se ama rebenta em roseirais,/ O próprio firmamento iluminando...)/ “No espaço, como um cântico, me expando,/ Sem saber exclamar o dó dos ais,/ Desconhecendo as maldições fatais/ E a angústia do soluço miserando./ “Sou mais fecundo do que a terra é
rica:/ Da minha alma que é uma árvore ilusória,/ Pendem os sonhos em pesada carga./ “Mordo os frutos da vida./ E só me fica do amor um travo.../ O amor, irmão da glória,/ É como o louro, cuja flor amarga”.

O literato Luiz Lopes Sobrinho (Ipiranga, Piauí, 1905-Teresina, Piauí, 1984), teve a sua imaginação despertada pelo amor. “Sem amor, este mundo é um exílio!/ Sem amor, nosso lar é uma prisão!/ Sem amor, não há mãe e nem há filho!/ Sem amor, não nos pulsa o coração!/ “Sem amor, não há paz nem alegria!/ Sem amor, tudo, enfim, é solitário!/ Sem amor, os tormentos de um só dia/ São iguais aos tormentos do Calvário!/ “Ai! O amor não traz só felicidade!/ Também traz, o amor, imensas dores, / Dessas dores que nascem da saudade!/ “Mas, é muito melhor ser desgraçado,/ Sofrer do próprio amor os dissabores,/ Que ser feliz e nunca ter amado”.

O lado idílico de Luiz Gonzaga Paes Landim (São João do Piauí, 1941), é encontrado nas “cartas de paixão desenganada”, escritas em 2008. E colocadas no precioso livro: “A Arte de Amar”. Na publicação das síntese de cada uma, o incrível literato são-joanense deixou marcada uma frase que, para nós, se tornou indelével pela honestidade de propósitos do escritor: “é a minha crença inabalável de que fica sempre um perfume nas mãos que ofertam flores”. As cartas (numeração que não é cabalística (relativa às ciências ocultas), chegaram a vinte e uma. Afloram a favor da amada e, no dizer do apaixonado poeta, “ é a projeção da superioridade na tua alma, que é a beleza plena e sem limites, a única verdade universal, independentemente de filosofias, religiões, sistemas políticos ou econômicos”. Arrebatado e dando conta de que o amor, realmente, é o culto do impossível, no final da vigésima primeira e última carta, acrescentou: “não há de ser nada, querida amiga, que os céus te cubram de bons presságios na hora do nosso adeus”.




CARLOS SAID
JORNALISTA E PROFESSOR

Nenhum comentário:

Postar um comentário