domingo, 16 de outubro de 2011

Vácuo perigoso


O combate à corrupção sempre foi uma peça de resistência de agrupamentos políticos das mais variadas matizes ideológicas – incluindo o populismo, o que fez com que dois presidentes da República (Jânio Quadros, em 1960, e Fernando Collor, 29 anos mais tarde) se elegessem com bandeiras de luta anticorrupção. Nenhum deles terminou o mandato, assim como também não escaparam de serem eles próprios tisnados pelas denúncias de irregularidades


Se há pouco menos de duas décadas a indignação contra a corrupção sempre foi um apelo forte para levar
as pessoas às ruas em protesto, a ponto de até se criar ambiente político para o ‘impeachment’ de um  residente da República e a cassação de deputados que desviaram dinheiro de emendas do orçamento federal, hoje não parece ser mais o caso de uma sedução imediata: as pessoas estão amplamente
indignadas, mas isso não as faz sair da zona de conforto de um descontentamento não-militante.


Especialistas têm dito que a boa situação econômica do país faz com que as pessoas não deixem suas casas e transformem seus protestos em ação virtual, nas redes sociais – Twitter e Facebook, principalmente. Porém, é necessário lembrar que as mobilizações contra as malfeitorias com dinheiro público estão
em declínio porque, entre outras coisas, o partido que fez delas cavalo de batalha para chegar ao poder, o PT, agora não quer mais saber do assunto.


A cooptação dos movimentos sociais pela estrutura de poder é uma outra boa razão para que a indignação contra roubos no governo não saiam do campo virtual para o real. Entidades como a União Brasileira dos Estudantes (UNE), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e sindicatos de servidores públicos preferiram fazer marchas de apoio ao governo ou em favor de coisas esquisitas como controle social da mídia.


Neste cenário de limbo, nenhum político ou organização social parece ser capaz de tomar para si a tarefa de mobilizar as pessoas ou de aglutiná-las em torno de um propósito. Trata-se de uma situação nada positiva, porque foi sempre em momentos de vácuo de liderança que o país experimentou experiências político- eleitorais desastrosas como a de Jânio Quadros, que desaguou em 20 anos de regime ditatorial.





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