domingo, 11 de dezembro de 2011

Lamento de mãe

Foi em uma noite passada, que vi e ouvi, num jornal de TV, o lamento de uma mãe. Ela se queixava amargamente de uma segunda filha que morrera. Seu corpo sem vida estava num pobre berço, a um canto da humilde sala. A mãe dizia numa voz entrecortada por soluços: É a segunda filha que morre. Não de doença, mas de descaso. E esclarecia que a criança voltara sem vida do Hospital Infantil. Acontecera o mesmo com a outra filha! Era uma mulher jovem e ao que parece, desejava muito cumprir sua missão de mãe!

No comentário que envolvia esta notícia, foi dito que havia um único hospital infantil no Piauí, dotado de UTI pediátrica. Esta tinha nove leitos, mas destes leitos, apenas três eram dotados de respiradores.
Tentava-se também justificar o óbito como resultante de enfermidade e não de falha do hospital. Isto era a explicação da direção do hospital. A Secretária de Saúde nada acrescentou.

Ouvindo esta tristíssima ocorrência, vieram-me algumas reflexões. Senti a forte emoção de ver morrer crianças, às quais fora reservada outra condição: ser filhos de Deus e dignos cidadãos de uma Pátria!

O Estado do Piauí, apenas, com um hospital público infantil?! Para mais de três milhões de habitantes?! E este único hospital, há dois anos em fase de reparos e sem condições técnicas de atender a quantos o procuram?! Uma UTI, como se encontra atualmente, mais parece um simulacro
do que um instrumento de salvação!

Lembrei-me também de uma conversa mantida com o ex-governador e meu amigo, o médico Dr. Lucídio Portela.

Naquele colóquio, o Dr. Lucídio me assegurara que, em seu governo, erradicara a tuberculose no Estado do Piauí. Só isto faz o Dr. Lucídio, como seu irmão, o também ex-governador Petrônio Portela, merecedor de uma estátua, se não na cidade de Teresina, com certeza, no coração dos piauienses.

Lembrei-me, ainda, por conta desta notícia televisiva, de um fato sucedido comigo, ao chegar a Teresina, arcebispo recémnomeado. Perguntou-me um jornalista o que iria fazer em prol das pessoas vítimas de hanseníase. Disse-lhe que tão logo fosse arcebispo de fato, faria o que estivesse ao meu alcance. E acontecia, pouco depois, que uma religiosa italiana, interessada na mesma causa, obteve-me uma passagem à Itália. Fomos à cidade de Bolonha, à sede da organização Raoul Follereau e obtivemos recursos e incentivos para a construção do Centro Maria Imaculada, no bairro Real Copagre, em Teresina.

O prefeito de então, Dr. Wall Ferraz, ajudou-me na campanha de aceitação da população residente naquela região.

O centro mereceria maior ajuda do Poder Público. Sob a égide da ASA (Ação Social Arquidiocesana) ele vem oferecendo os seus serviços a numerosas pessoas do Piauí e do Maranhão. Deus seja louvado!
Lembrei-me participando da audiência da quinta Feira dos Municípios, dos esforços em benefício da promoção do Piauí e seus municípios: artesanato, cultura, educação. E a saúde? Um único hospital infantil público no Piauí?! Que faremos? Já está passando



DOM MIGUEL FENELON CÂMARA
ARCEBISPO EMÉRITO DE TERESINA

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