quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Lembranças da minha vida


No livro “Lembranças da Minha Vida”, Francisco Miguel Soares de Araújo (Valença do Piauí, 1932), lembrou as palavras proferidas pelo escritor norte-americano Carl August Sandburg (Galesbury, 1878-Chicago, 1967): “Um homem escreve o melhor que pode sobre aquilo que o comove profundamente”. Os pais do amigo ´Chico Miguel´, José de Araújo Neto e Ana Soares de Araújo, pessoas de origem humilde, alicerçadas na perseverança dos videntes pela qual a generosidade ajuda mais que um bom conselho, prepararam o trajeto de vitória do filho. Acreditaram que, em futuro breve, teria ele a incumbência de chefiar importantes missões. Uma delas, talvez a mais nobre: a da minimização dos problemas sociais entre interioranos piauienses de pobreza extrema.

Feito homem, Francisco Miguel Soares de Araújo, liderando o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (instituído popularmente como Funrural, e bastante conhecido na concessão de aposentadorias ao trabalhador do campo, criação dos militares que estavam à frente do poder político no país), juntou muitas histórias de beneficiados já que era o responsável pelo pagamento dos “aposentos” (denominação cabocla para popularizar a palavra aposentadorias). Consolidando a compreensão sobre como devemos publicar livros: eles não são humanos mas permanecerão sempre vivos no espaço e no tempo.


Assim, ‘Chico Miguel´, levado por sua vasta inteligência, interpretou o sermão budista a fim de que fosse levado ao longínquo interior piauiense, naquele tempo ido do Funrural. No dia a dia das atividades, passou
a distribuir simpatia e amizade. Como se dissesse: não sei se dentro de você, estimado caboclo, existe um pouco de mim, mas dentro de mim existe muito de você. Por isso, e antes da extinção desse proeminente órgão previdenciário federal, 1976, absorvido pelo INPS (Instituo Nacional de Previdência Social, hoje de Seguridade Social), ´Chico Miguel´ empreendeu uma viagem ao município de São Raimundo Nonato.

“A estrada ainda era de piçarra. Muita poeira na estrada. Suja, a minha delegação chegou ao hotel da cidade.


Todos, sem haver exceção, pedindo para banhar. Tirar a sujeira da viagem. O dono do hotel dizendo em tom categórico: a água para fazer a comida dos hóspedes, lavar pratos, eu mando buscar na cidade de Remanso, na Bahia, distante 70 quilômetros de São Raimundo Nonato. A água para banhar é procedente dum ´barreiro´ localizado no fundo do quintal. No local indicado, avistei porcos deitados na água misturada com barro. E algumas pessoas lavando cavalos. Como chefe da delegação, resolvi não tomar banho com aquela água do ´barreiro´.

Incontinenti, solicitei ao motorista do veículo oficial: vá comprar lá em Remanso, 10 litros de água mineral. Sem gás.


Água sem nenhuma alteração em seu conteúdo. Com ela, jogada em meu corpo, me limparei do sujo da viagem”.

Por fim, Francisco Miguel Soares de Araújo é mais um novel escritor. Católico, está sempre solícito às divinas orações. Regularmente, implora a proteção de São José: “Meu amável protetor, socorrei-me em todas as necessidades e perigos da vida, mas principalmente na hora suprema, vindo suavizar minhas dores, enxugar minhas lágrimas, fechar suavemente meus olhos, enquanto pronunciar os dulcíssimos nomes: Jesus, Maria, José, salvai a minha alma! ”.



CARLOS SAID
JORNALISTA E PROFESSOR




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