quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Parnaíba, ontem, hoje e sempr


Muitos insistem em afirmar, pejorativamente, a aleivosia de que Parnaíba é “a terra do já teve”. Na realidade, vivenciou momentos de grandes dificuldades nas interfaces dos dois grandes ciclos de desenvolvimento pelos quais passou ao longo de sua rica história. O 1º ciclo foi aquele vivido no tempo das charqueadas e do couro — da segunda metade do século XVIII até o fim do primeiro quarto do século XIX —, inicialmente sob os auspícios de João Paulo Diniz, e depois pelos Dias da Silva, exportando para o Pará, Maranhão, Ceará, Pernambuco, Bahia, e Portugal.

Com a morte de Simplício Dias em 1829, os seus negócios declinaram e a então Vila de São João da Parnahíba, a mais influente da Província, passou por um longo período de apatia, até o início do século XX, quando se iniciou o 2º ciclo de desenvolvimento que durou até o fim da década de 50. Esse foi o maior momento econômico vivido pela cidade, quando se tornou um grande empório comercial e industrial. Sendo conhecida no mundo como polo exportador de vários insumos, liderados pela cera de carnaúba, e importador de gêneros alimentícios e produtos manufaturados, auferindo à cidade o mérito de maior arrecadadora de impostos para o Estado e adquirindo relevada importância e liderança nas regiões Norte e Nordeste do Brasil.


Depois desse período de fartura e apogeu enfrentou novamente um período de grandes dificuldades, como: a inevitável queda dos preços da cera no exterior, propiciada pela descoberta e manufatura de produtos sintéticos equivalentes; com a construção das estradas, o rio Parnaíba, então navegável nos seus 1500 km de extensão, deixou de ser a nossa única via de escoamento entre o Sul do Estado e os portos de Parnaíba, Amarração e Tutóia, no Maranhão. Esses fatores negativos causaram inicialmente um baque na economia, sinalizando o fim do 2º grande ciclo de desenvolvimento. Em seguida, numa reação em cadeia, acabaram-se as grandes empresas produtoras, exportadoras e as importantes companhias de navegação que sustentavam nosso florescente comércio. Assim, Parnaíba passou mais uma vez por um longo período de depressão, ficando à deriva e à mercê das elites conservadoras e de uma classe política acomodada.

Agora os tempos são outros. O mundo girou... E o que passou, passou! E como a vida é um constante perde e ganha, certamente aquilo que perdemos no passado poderemos ganhar agora, com maior valor agregado. Tudo indica que o tempo mais uma vez favorecerá a predestinada e cosmopolita Parnaíba, propiciando que se inicie um novo e agora duradouro e consistente ciclo de desenvolvimento direcionado para outros rumos como: o turismo sustentável, a consolidação dos polos regionais de saúde e educação, a criação da “Universidade Federal do Delta do Parnaíba”, a grande produção de produtos orgânicos pelos Tabuleiros Litorâneos, a entrada em operação da Zona de Processamento e Exportação – ZPE, a revitalização da estrada de ferro Altos/Luís Correia, a conclusão do Porto de Amarração e a consolidação do nosso Aeroporto Internacional, inclusive com terminal de cargas.


Todos esses fatores são indicativos de que esse 3º ciclo terá vida longa e progressiva. No entanto, para que isso aconteça em definitivo, é necessário que, espelhando-se nos exemplos negativos do passado, as elites de agora acreditem, investindo na cidade, e a classe política modernize-se, conscientizando-se de que a cidade atingiu um nível tal que não permite mais, como outrora, retrocessos, exigindo para isso uma mudança de postura radical, onde os reais interesses da urbe estejam sempre acima dos seus interesses. Aqueles que afirmam que Parnaíba é “a terra do já teve” certamente são os mesmos que nada fizeram por ela.



MÁRIO PIRES SANTANA
ESCRITOR/JORNALISTA



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