quinta-feira, 29 de março de 2012

O museu de Niède Guidon


O nome gravado em letras douradas em uma placa acrílica cor de ébano, do governador Hugo Napoleão do Rêgo Neto, à direita do pesado portão de entrada do salão térreo do Museu do Homem das Américas, incrustado nas cercanias da cidade de São Raimundo Nonato, no semiárido piauiense, intui-nos a convicção de que aquele monumento relicário, onde se guarda verdadeiro tesouro pré-histórico, foi construído em data anterior ao período conhecido como “nunca antes na história desse país...”, inaugurado pela “companheirada” cuja origem e DNA parecem não fazer parte daquele acervo arqueológico, a duras penas preservado naquele “laboratório genético” da espécie humana.

À medida em que se penetra museu adentro, ao som de uivos, bramidos, gorjeios, urros, esturros e outros insólitos sons da natureza, em sua datação embrionária, um sentimento escatológico invade-nos a mente, para logo depois despertar-nos com a ideia de que estamos diante não da morte, mas de nossa própria origem, a origem do homem americano, ingênuo, insensível, ingrato e bobo, que financia a prosperidade de certos líderes evangélicos, vendedores de ilusória salvação, mas incapaz de se empenhar de corpo e alma na luta pela preservação de um patrimônio histórico e cultural acerca de sua própria origem, hermeticamente guardado naquele grande sarcófago da Pré-História do homem das Américas.

A natureza, em sua infinita sabedoria e bondade, conservou por mais de 50 mil anos aquele inestimável acervo cultural descoberto e apropriado pela brava arqueóloga Niède Guidon e sua valorosa equipe.

Contudo, os governos federal, estadual e municipal não têm tributado o devido apoio reclamado pela sociedade e pela Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), que administra aquele empreendimento, cujo interior nos transporta para um cenário de primeiro mundo, e o exterior nos remete a uma visível realidade de abandono e descaso por parte das autoridades responsáveis.

Ante a magnitude daquele repositório de cultura pré-histórica, e a pequenez das autoridades culpadas pela escassez de recursos de toda ordem para a sua manutenção, estamos diante de que é verdadeira a recorrente afirmação de que o Brasil é um país sem memória. Diante dos fatos, contra os quais não há argumentos, melhor seria que, indo a São Raimundo Nonato-PI, sugeríssemos ao nosso guia que nos conduzisse ao Museu de Niède Guidon, a mulher das Américas.



EDIVAM FONSECA GUERRA
ADVOGADO/ESCRITOR

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