quarta-feira, 21 de março de 2012

Fatalidade


A fatalidade colheu três ilustres personagens: Edvaldo, aviador; Jaime Amorim, professor; Xavier Neto, político.

Quando Sêneca (Lucius Annaeus Sêneca: Córdova, Espanha, 4 a. C.-Roma, Itália, 65 d. C., filósofo romano), havia acrescentado com os comensais da semana que “a vida não é o bem nem o mal, mas simplesmente o cenário do bem e do mal”, os amigos estranharam o sofisma de Sêneca. Do episódio da antiguidade clássica, restou como compreensão a luta do bravo moço Edvaldo Pereira de Sousa, 44 de idade, (Altos, Piauí, 1968- Eliseu Martins, Piauí, 2012), experimentado piloto de aviões monomotores. No momento em que tentava controlar o aparelho para não deixá-lo chocar-se contra o solo dantes generoso para ele em centenas de tranquilos pousos, o pensamento girou em torno da presença de Deus. Na ótica do jornalismo, explicamos: Edvaldo buscou o desprendimento sem esperar retorno para elogios. Esteve sempre alimentado pela doação e pela paixão de voar e voar sempre à procura de um mundo melhor.

Vivemos com as nossas percepções. Tal como explicou Johann Gottfried von Herder (Prússia Oriental, 1744-Weimar, Alemanha, 1803), escritor e filósofo): “O sentimento é o primeiro, o mais profundo e quase o único sentido do homem: a fonte de maior parte dos nossos conceitos e das nossas sensações (…), a verdadeira origem da verdade, do bem e do belo”. Assim, Jaime Amorim Júnior (Teresina, Piauí, 1971-
Eliseu Martins, Piauí, 2012), pego pela catástrofe, foi uma das três vítimas fatais após a queda da pequena aeronave que fazia o trajeto: Teresina-Parnaguá, Piauí.

Ajustando os acontecimentos proporcionados pelo destino, o que devemos acrescentar como provação pelo terrível momento da manhã do dia 6 de março de 2012, é que Jaime Amorim, jovem, 41 anos, era um honesto servidor do Tribunal de Contas do Estado do Piauí – TCE. Profundo conhecedor das ciências contábeis, um conselheiro que sabia de maneira prudente, analisar e aprovar (ou não) as contas que, chegadas às suas mãos, se transformariam no crivo da verdade contábil. Escopo de transparência num colegiado que escalou por competência, sempre pugnando a favor da decência nas contas públicas estaduais.

Ensinava Honoré de Balzac (Tours, França, 1799-Paris, França, 1850), escritor e dramaturgo): “A vida nada mais é do que aquilo que os sentimentos fazem dela”. Por isso, diante da fatalidade que provocou a tragédia aérea fulminando o político Xavier Neto (Guilherme Xavier de Oliveira Neto (6 de março de 2012), lembramos a convivência que despertamos numa rútila recordação, início dos anos 80, século passado. Xavier Neto (Amarante, Piauí, 1947-Eliseu Martins, Piauí, 2012), impetuoso deputado estadual de sete legislaturas, verdadeiro em suas convicções, resolveu integrar uma turma de pessoas interessadas no aprendizado das 17 regras do futebol. Estávamos à frente dos pupilos articulando o aprendizado dessas
técnicas. Em pouco tempo, enquanto durou o curso patrocinado pela Federação Piauiense de Futebol (hoje, de Futebol do Piauí), alicerçamos uma amizade que se fortaleceu com a diplomação do Xavier Neto, aluno aplicado com notas distintas. Convenhamos, companheirismo graças aos esforços despendidos.

Cada um de nós na sua área de atuação. E, para não faltarmos com a verdade estabelecida, a última vez que estivemos – lado a lado -, o episódio ocorreu quando do lançamento do livro “Sertões de Bacharéis”, do historiador Jesualdo Cavalcanti Barros (Corrente, Piauí, 1940), evento cultural de 2011, realizado no principal auditório do Tribunal de Contas do Estado do Piauí. Xavier Neto, já Conselheiro do TCE, na comprovação do valor extraordinário que havia alcançado perante a opinião pública piauiense.



CARLOS SAID
JORNALISTA E PROFESSOR

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