domingo, 6 de novembro de 2011

Renda desconcentrada

 A grande distância entre quem tem mais e quem tem menos ou concentração de renda, mais simplesmente – medida pelo Índice Gini – quase sempre pareceu ser um problema de países periféricos, em desenvolvimento, do Terceiro Mundo, conforme a classificação mais comum nos anos da Guerra Fria,
ou emergentes, como se diz agora em relação a economias pujantes como Brasíl, China e Índia.  

Teorias econômicas sobre a distribuição de renda sempre renderam brigas políticas e acalorados debates acadêmicos – mas sempre se percebeu os países desenvolvidos (Europa, Estados Unidos e Japão) como zonas livres de uma distância abissal entre ricos e pobres. No socialismo real da era soviética também parecia ser a concentração de renda um mal econômico ausente naqueles países.

Ocorreu que o socialismo real entrou em declínio, a economia de mercado prevaleceu e exportou modelos de pensamento político assentado na democracia representativa e o mundo finalmente tenderia a caminhar para uma situação de conforto em que haveria menos desigualdade, em que a renda não ficasse tão concentrada, o consumo das famílias passasse a ser a principal base para a expansão econômica, posto que se teria segurança financeira ao alcance de todos.

Porém, o roteiro de perfeição e equilíbrio, de pleno emprego e de redução duradoura da concentração de renda não se sustentou. O mundo assiste a um acelerado aumento do número de miseráveis em países que antes se orgulhavam de seus sistemas de proteção social – incluindo os Estados Unidos, de onde vem a expressão segundo a qual não existe almoço grátis, mas onde também se acredita não ser possível deixar as pessoas morrerem de fome.

O empobrecimento de cidadãos europeus e norte-americanos se deu em uma velocidade espantosa, embora, mesmo nessas circunstâncias não se tenham as imagens de miséria que se seguiu à crise de 1929. Porém, o que se pode esperar é que boa parte das pessoas simplesmente não sejam mais reinseridas no mercado de trabalho e que a pobreza se torne um mal crônico em economias que pensavam ter se livrado da miséria.  

O que ocorre nos países ricos pode e deve servir de lição para nós brasileiros, hoje igualmente orgulhosos dos progressos sociais e econômicos do nosso país. É necessário manter o rigor fiscal sem comprometer as políticas de proteção social, ao mesmo tempo em que parece bastante saudável reduzir os instrumentos que se prestaram, tanto aqui quanto em outros países, à concentração excessiva da renda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário