sábado, 26 de novembro de 2011

Que é o poeta?


O insigne Martins Napoleão (Benedito Martins Napoleão do Rêgo - (União Piauí, 1903-Rio de Janiro, 1981), extravasou o amor com a sua genialidade poética. “Beijei a vida e fui divino, amando./ (A Terra, cheia de homens imortais,/ Quando se ama rebenta em roseirais,/ O próprio firmamento iluminado...)./ “No espaço, como um cântico, me expando,/ Sem saber exclamar o dó dos ais,/ Desconhecendo as maldições fatais/ E a angústia do soluço miserando./ “Sou mais fecundo do que a terra é rica:/ Da minh´alma que é uma árvore ilusória,/ Pendem os sonhos em pesada carga./ “Mordo os frutos da vida. E só um fica/ Do amor um travo... O amor irmão da glória,/ É como o louro, cuja flor amarga”.

O notável bardo (poeta heroico) piauiense, de saudosa memória, Celso Pinheiro (Barras, Piauí, 1887-Teresina, Piauí, 1950), simbolista do sofrimento e da dor, deixou para nós o primoroso soneto: “Que é o Poeta?”. “Ser poeta... Fugir da realidade,/ Na asa dourada do subjetivismo,/ Para os jardins em flor do simbolismo,/ Os radiosos jardins da Eternidade.../ “Ser quimera, ser sonho, ser saudade,/ Sorver o céu no cálice do abismo,/ Como a abelha da graça e do animismo/ Nas colmeias de abril da Humanidade!.../ “Não
ter bens, não ter nada, tendo tudo,/ Por força do mistério e da magia/ Da pletora resplendente de veludo!.../ “É viver como as aves, como as flores,/ E recolher-se ao término do dia,/ Para as preces, as bênçãos, os louvores!...”. Esclarecemos: Celso Pinheiro empregou as palavras “animismo” e “pletora”, intuito de embelezar a sua poesia. Assim, “animismo” é uma doutrina segundo a qual uma só e mesma alma é o princípio da vida e do pensamento. E “pletora”, significando estuante, isto é, entusiasmo de vida.

No livro de poemas de autocontemplação, Luiz Gonzaga Paes Landim (São João do Piauí, 1941), escreveu “Mea Culpa”, ineditismo da visão do amor perdido. “Porque eu fui gostar de alguém,/ Sem uma razão a mais para querer,/ Em cujo coração, também,/ Uma tristeza indizível de tudo/ Era a única coisa de se ter,/ É que sofro./ “Ser e estar, sentir na carne/ A alfinetada seca de um dilema,/ E ali, no corpo, onde deveria doer,/ A única coisa que se vê/ É o sopro leve de uma pena”.

Sobre saudade, eis os versos de J. Ribamarr Matos (José Ribamar Matos: Oeiras, Piauí, 1946): “Saudade – lembrança triste/ De um sonho que já passou.../ Saudade é tudo que fica/ De tudo que não ficou...”
 
O dedicado poeta José Ribeiro e Silva (Cascavel, Ceará, 1934), reconhecido pela crítica literária da Academia Piauiense de Letras (data de fundação: 30 de dezembro de 1917), escreveu comoventes versos. “Sentado à mesa tosca do destino/ O poeta – esse vassalo/ Escreve com a pena/ Sempre molhada/ No abismo e na lágrima/ Os salmos/ Da sua bíblia profana/ Nascida dos vindimais sagrados./ “E sua lira aflita e langorosa/ É filha/ Do grito da saudade/ E amante ardente/ Da deusa da ilusão./ “E nessa faina de chorar
cantando/ As dores/ Todas do caminho/ E esquecer sorrindo/ Todos os mártires/ Somos os poetas – e tão somente/ Os esmoleres do amor/ Acostados ao umbral dos botequins do mundo”. Esclarecemos: José Ribeiro e Silva empregou as palavras “vindimais” e “esmoleres”, extravasando sentimentos. “Vindimais” como colheitas de qualquer fruto. E “esmoleres” como pessoas caridosas, que dão esmolas.

Chistes fazendo parte do linguajar do povo, são encontrados de maneira fácil. Citaremos quatro exemplos da sabença popular. 1 - “Quem é bom de andar não escolhe caminho”. 2 - “Mulher e cachorro devem se escolher pela raça”. 3 – “ Orvalho não enche poço”. 4 - “Não pode fugir: se avoar faz sombra; se caminhar faz rasto”.

Esclarecemos: a palavra “rasto” foi empregada no sentido de indicar vestígio, isto é, indicar o lugar por onde se passa.





CARLOS SAID
JORNALISTA E PROFESSO

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