sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Quem te ensinou a voar? (final)


Magnífica é a crônica do amigo José Francisco Marques, professor, compositor, instrumentista. Nascido em Campo Maior, Piauí, ei-lo cronista e um guardador de memórias. Não poderíamos esquecê-lo como preservador do tempo passado quando o futebol de várzea de Campo Maior atingia o apogeu. Propiciando a descoberta de novos valores capazes da titularidade nos dois maiores clubes campomaiorenses: Comercial
e Caiçara. É, também, uma sincera homenagem a todos aqueles que participaram da arrancada formidável do amadorismo da “terra dos carnaubais” que, nos anos 70, século passado, contagiou a todos os piauienses (garantiram presenças no Torneio Intermunicipal promovido pela Associação Profissional dos Cronistas Desportivos do Piauí, a conhecida APCDEP). Portanto, nada melhor do que a parte última da crônica do José Francisco Marques agasalhada pela popularidade do futebol. Sem faltar o nosso testemunho – como jogador e jornalista especializado.


Lembro-me, dentre outros feitos, de uma defesa antológica que Elmar praticou. Repassei, durante muito tempo, aos amigos que militavam na área esportiva, tal feito. Era uma espécie de semifinal ou algo parecido. O jogo estava duríssimo e o Palmeiras vencia por 1 x 0. O jogo já estava quase finalizando, quando o centroavante adversário acertou uma cabeçada no canto esquerdo, tendo o nosso goleiro, em um reflexo incrível, efetuado a defesa. A bola resvalou na trave. A pelota sobrou para outro atacante, que de primeira soltou um “torpedo”; o nosso arqueiro, usando de uma agilidade felina, conseguiu, no canto contrário, fazer uma defesa fenomenal. Mais tarde, ao ver uma defesa de Rojas, atuando no Santos (os mais afeitos ao futebol certamente lembrarão), é que pude estabelecer um comparativo com essa verdadeira façanha malabarística.


Elmar tornou-se um grande goleiro precocemente. Certa feita, ainda criança, jogava com alguns amigos em um campinho de futebol. A sua atuação despertou a atenção de um agricultor que por ali passava. Depois de
seguidas defesas e voos, a espalmar a bola, o agricultor, não contendo a sua admiração e espanto, expressou em voz alta:


“Meu Deus, parece um passarinzim”. O lado intelectual falou mais alto e assim o futebol perdeu um grande goleiro. A magistratura, por sua vez, ganhou um reforço substancial.


Mas, voltando às minhas memórias, jogo terminado, Elmar seguia, agora com alguns amigos, de volta ao seu lar (ou algum boteco), não sei ao certo, entre elogios e expressões de puro contentamento.


Hoje, depois de muitos anos, o mesmo jogador brilhante, que antes imitava com perfeição o voo dos pássaros em suas defesas acrobáticas, transporta-me em suas asas poé-ticas a voos ainda mais densos e infindos.

Mestre, humildemente vos pergunto: Quem vos ensinou a voar?


CARLOS SAID
JORNALISTA E PROFESSOR






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