sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Movimento patético


Estudantes universitários sempre foram um esteio do inconformismo necessário nas gerações mais novas. O inconformismo – mesmo quando não justificado ou não legitimado – sempre teve o condão de ser um agente de mudanças no país: impulsionou protestos, deu ânimo para os que não se impunham diante de forças políticas obscurantistas, fez carga em favor de transformações sociais e políticas no Brasil. Mas essa leitura já não cabe nos dias de hoje.

Assiste-se em São Paulo à invasão de prédios da USP por estudantes que protestam contra o que a maioria
das populações periféricas deste país tem: segurança pública. Os alunos tomaram de assalto a reitoria com o fito de ‘exigir’ que a polícia saia do campus. E o que fez a polícia para merecer essa ojeriza? Deteve rapazes que estavam ‘recreativamente’ fumando maconha. O protesto é um escárnio contra uma parcela considerável da população que padece pela ação do narcotráfico ou cujos filhos são consumidores de drogas.

Pedir que a polícia deixe um campus universitário onde roubos, furtos, assaltos e até estupros foram cometidos à luz do dia é algo que não encontra espaço no campo de compreensão das pessoas comuns. Sobretudo quando o pedido decorre de uma ação policial que em uma região de periferia de qualquer grande e média cidade brasileira teria amplas chances de resultar em prisão e mesmo em humilhação à pessoa abordada, cujo perfil é conhecido: rapaz jovem, negro, de baixa instrução e com quase nenhuma possibilidade de ter um emprego decente.


Infelizmente, o que ocorre na Universidade de São Paulo é um reflexo da corrosão a que chegou o movimento estudantil brasileiro, cevado por muito dinheiro público e outras fontes de renda, que se rendeu aos encantos do governismo e faz protestos sob encomenda: geralmente contra quem pensa de modo diverso ao do governo que lhe seduz com dinheiro e posições políticas na administração pública.

No Brasil de um movimento estudantil cooptado pelo governo e de estudantes que querem a polícia fora do campus para fumar maconha sem serem molestados, certamente nunca haveria o que se dá no Chile, onde a garotada tomou as ruas para protestar em favor de melhoria na qualidade do ensino público em todos os níveis.

Nenhum comentário:

Postar um comentário