quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Serenidade necessária


Em um regime democrático ou no estado democrático de direito, como preferem muitos, é essencial o debate público. Fugir dele pode representar uma derrota política, omissão, covardia, inépcia, desídia. Porém, há que se diferenciar debate de bate-boca, de troca de acusações em público, de uso da mídia como uma gigantesca tribuna para sandices trocadas como se fossem balas em um tiroteio.


Um caso policial, que deveria ser tratado com discrição e bom senso, vem sendo o estimulador de um bate-boca público no Piauí, que envolve o Ministério Público, a polícia (entidades de promotores e delegado soltaram notas defendendo seus membros e corporações) e agora dois políticos, os deputados Marcelo Castro (PMDB) e Robert Rios (PCdoB), com críticas especialmente dirigidas ao promotor Eliardo Cabral, ele próprio mais profícuo nas palavras que o necessário.


O que poderia e deveria ser tratado conforme regras de boa conduta institucional terminou por servir para uma espetacularização midiática. Ruim que assim tenha sido, porque as centenas de entrevistas concedidas por delegados, policiais, promotores de Justiça, políticos e outras pessoas não serviram para esclarecer o que quer que fosse nas investigações da morte da estudante Fernanda Lages.


Muito mais do que ajudar, o bate-boca (e não o debate, ausente nesse episódio) prestou-se a manter uma tensão social, a criar e estimular um clima de torcida a favor e contra as hipóteses normais e necessárias a uma investigação. Elegeram-se culpados sem que houvesse sequer concluído o inquérito e se estabeleceu um maniqueísmo que ao fim e ao cabo terminará por ser ruim para todas as partes envolvidas nesse processo. Hoje, quando se completam 60 dias da morte da estudante, a polícia deverá apresentar o resultado do inquérito. O que se espera é serenidade, porque arroubos, histrionismos e bate-boca não servirão para estabelecer a verdade ou uma verdade desejada. Assim, para esta data, pelo menos, aguarda-se uma postura mais pautada no silêncio que nas palavras vãs, mais na sensatez que no desejo de incendiar as paixões, de buscar o acerto e não de apenas apontar o erro.



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