sexta-feira, 13 de abril de 2012

Poeta


Amanhã, sábado, 14 de abril de 2012, às 10 horas matinais, a Academia Piauiense de Letras (data de fundação: 30 de dezembro de 1917), realizará a sessão dos louvores ao falecido acadêmico Benjamin do
Rego Monteiro Neto (Teresina, Piauí, 1915- 2012). A oração dos elogios será proferida pelo notável literato Celso Barros Coelho (Pastos Bons, Maranhão, 1922). No importante livro: “Poesias de Ontem”, Benjamin do Rego Monteiro inseriu um dos mais belos momentos da vida acadêmica ao escrever singelos versos que honrarão (para sempre) a sua extraordinária memória. “Quando não faço nada, escrevo versos./ É um vício, velho vício, já nem sei/ Desde quando o cultivo./ Nele imersos/ Os sentidos, ressurge o que amei.../ “E assim, aos poucos, crio os universos,/ De que meu sonho me coroa rei./ Coloco a vida dentro de meus versos./ “A poesia tem sido a minha lei)/ Mas, mesmo assim, conservo n´alma impressos/ Os sofrimentos que na vida achei”.

Nascido em Piracuruca, Piauí, 1928, Raimundo da Costa Ribeiro escreveu a poesia “Árvore Velha”. Justificando o que é viver na velhice. A metáfora é uma beleza literária. “Árvore velha, esqueleto apenas,/ Chocalhando ao vento./ Fantasma dos passarinhos... Árvore velha, seca,/ Miserável, moribunda, resquício de vida./ “Quem diria que nesta manhã/ Me surpreendesses,/ Verde, coberta de folhas,/ E toda enfeitada de flores amarelas?/ “Árvore renovada,/ Amiga dos passarinhos,/ Filha dos caprichos da natureza,/ “Te acabrunhas, murchas,/ Floresces de novo, e envelheço,/ Sucumbo, e não floresço mais...” Esclarecemos: metáfora consiste na transferência de uma palavra para um âmbito semântico que não é o do objeto que ela designa e que se fundamenta numa relação de semelhança subentendida entre o sentido próprio e o figurado”.

O poeta, jornalista e advogado Pompílio de Castro Lima,e Almendra (Teresina, Piauí, 1866-1894), no auge de sua formidável vida, 28 de idade, apaixonado pela beleza inconfundível de Cecília, escreveu reluzentes versos: “Uns olhos pretos que brilham/ Num rosto níveo, rosado,/ A linha pura e correta/ De um narizito afilado./ “Os lábios, rubros e ardentes,/ Como o desejo que inspiram/ Quando num riso faceiro/ Os alvos dentes despiram./ “Cabelos cor de azeviche,/ Mais negros que a escuridão,/ Um pé que eu posso conter/ Na palma de minha mão./ “Cheio o corpo mas esbelto./ Uma criatura ideal,/ A então... eu não sei se pode/ No mundo haver coisa igual./ “Uns seios donde se evola/ Da baunilha o fino extrato, / - Eis o tipo à espanhola,/ Eis Cecília, o teu retrato”.

O folclorista Fontes Ibiapina (João Nonon de Moura Fontes Ibiapina (Picos, Piauí, 1921-Parnaíba, Piauí, 1986), autor de uma das maiores peças da literatura popular: “Paremiologia Nordestina”, escreveu meses antes da data de seu falecimento que “os meus risos se fundem com os prantos que se desprendem igualmente aos cantos da alegria e da tristeza”.

Trinta anos de vida fecunda. O poeta e contista Paulo Trindade Veras morreu jovem. Parnaíba, Piauí, 1953, a terra natal; Fortaleza, Ceará, a tumba. Em “Oferenda” aos deuses, a sua contribuição literária.“Trago nas  mãos/ Um resto da noite passada/ E entre os dedos o suco das estrelas/ Que como sábias irmãs/ Me fizeram companhia./ “Faltou tua orelhinha de búzio/ Onde eu escutava as marés/ E retirava o sal amargo/ Com a língua em arpão./ “Esta memória de hoje/ É apenas o retrato morto/ De um corpo com impressões digitais/ “ Sobre a pele/ Uma lembrança/ Que traz de volta/ Uma dor antiga/ Uma ferida que é uma boca/ De tão aberta/ “E este peito/ Está tão cinzento/ Que chego a pensar/ Que chove nas vísceras”.




CARLOS SAID
JORNALISTA E PROFESSOR

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