segunda-feira, 9 de abril de 2012

PIBão brasileiro e o Shock britânico


Há três anos, quando cheguei ao Velho e encantador continente europeu, me inquietavam os comentários frente ao imaginário popular em relação ao Brasil, com clichês do tipo: Carnaval, futebol e favelas que, simbolicamente, permeiam um misto de exotismo, festa, alegria e violência. Nos últimos meses e, mas especificamente, nestes últimos quinze aqui em Londres, se propagava em todos os meios de comunicação – O Brasil ultrapassa a Grã-Bretanha!!! É a sexta potência econômica – eram as manchetes em The Guardian, The Economist e BBC TV. Confesso que estava feliz com o que escutava e lia, embora me chamasse a atenção o tamanho do alvoroço em torno desta constatação. Todas as vezes que me identificava como brasileira faziam um comentário a este respeito; seja na universidade; no parlamento; no metrô; ou em lojas. Era como se os britânicos tivessem despertado com um grito assustador – pensava eu, – e cheguei a comentar: isto está parecendo paranoia, por que tanta comparação entre os dois países?

Não é paranoia, respondeu um professor britânico. É vergonha ... isso tem um elemento de arrogância; eles se perguntam como é possível que um país como o Brasil possa, em pouco tempo, nos ultrapassar? Completou o professor. A bagagem histórica-mítica britânica que, entre outras causas, se fundamenta em alguns fatos como: ter uma defesa formidável que tem impedido invasões externas, derrotou a Napoleão,
triunfou contra Alemanha na II Guerra Mundial em aliança com EUA e a União Soviética, é o país do Rolls Royce, da minissaia, dos Beatles, da BBC, da monarquia de maior prestígio no mundo, então, de certa
maneira há produzido um shock ao ser superado economicamente por um país que, até os anos 90, recorria ao Fundo Monetário Internacional e gerava reflexos negativos e desconfiança.

Atualmente a tendência de mudança do eixo econômico mundial já é conhecida. O Brasil é empurrado em grande parte devido ao aproveitamento do seu potencial natural convertido em commodities (alimento e energia) que tem proporcionado essa destacada posição econômica internacional de crescimento. De  acordo com The Financial Times a dívida do Reino Unido em 2011 foi de 75.1% do PIB e em 2016 será de 73.5% do PIB, enquanto a do Brasil en 2011 foi de 40% e em 2016 será de 36.8% (Fonte: Emile Cadman and Steve Bernard. Comparing the burden of public debt. The Financial Times, 31 de Júlio, 2011). O FMI estima que a economia brasileira em 2016 estará acima de US$3 trilhões.

Em 2003, o PIB brasileiro era apenas US$1 trilhão. O PIB do Reino Unido, por sua vez, era de US$ 1.7 trilhão em 2003, e a previsão em 2016 será de US$ 2.7 trilhões (Fonte: FMI Niveles de PIB en World Economics Outlook, April, 2011). A tendência, em nível europeu é também de baixa.
 
Essa posição econômica brasileira nos remete a outra posição: a de desigualdade social; há poucos anos perdíamos somente para Serra Leoa no ranking mundial. A bagagem histórica-sincretista brasileira construiu um mito de democracia racial mesclada de uma “naturaliza ção” da desigualdade social no país. Essa imagem necessita ser desmascarada e combatida, necessitamos nos indignarmos, tomar um shock, sentir vergonha, rever nossos valores. A nossa posição econômica e a consolidação do crescimento e da respeitabilidade do país não admite mais essa indiferença, ela requer mudanças sociais, individuais e coletivas, requer menos preconceitos, especialmente contra as políticas de redistribuição de renda e de desigualdade social no país. Ao dar oportunidade às pessoas de desenvolver suas capacidades teríamos sim, além de conmodities, muito mais alegria e menos violência.



MARIA HELENA C. DE M. PIRES
P R O F E S S O R A   D A   U F P I / C M RV   D O U T O R A N D A
D A   U N I V E R S I D A D   C O M P LU T E N S E   D E   M A D R I D

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