domingo, 29 de abril de 2012

O senador fingido


O senador Demóstenes Torres (sem partidoGO) criou uma nova categoria de políticos em uma fauna ruim em que já estão os demagogos, os populistas e os caras-de-pau: os fingidos. Torres é um homem fingido, uma espécie de criatura política bipolar, possivelmente a representação em carne e osso de ‘O médico e o monstro’.

Durante os últimos anos, o congressista goiano era uma reserva moral em um parlamento coalhado de políticos sob suspeita eterna, processados ou investigados, apontados pelos eleitores e líderes de opinião como alguém a quem de quem não se pode comprar um carro usado – para usar uma expressão da publicidade e que se presta a apontar suavemente os escroques.

Esses homens, contudo, não fingem ser o que não são. Isso não os isenta, mas faz com que ao menos parte da opinião pública os veja sem os rigores com que se dirige raiva e asco ao político fingido. Caso exemplar, portanto, é o de Demóstenes Torres, que fingia combater a corrupção enquanto enriquecia despudoradamente.

O senador, segundo o procurador-geral da República, recebeu R$ 3,1 milhões em propinas. “Em diálogo no dia 22 de março de 2011, às 11:18:00, entre Carlos Cachoeira e Cláudio Abreu, não desgravado pela autoridade policial, é expressamente referido que o valor de um milhão foi depositado na conta do senador Demóstenes e que o valor total repassado para o parlamentar foi de R$ 3.100.000,00”, escreveu Gurgel no inquérito encaminhado ao STF e que deverá ser encaminhado aos senadores do Conselho de Ética do Senado.

Ora, diante da robustez das provas, o fingimento do senador não faz mais sentido. Pode até ser que tecnicamente ele se livre das acusações, mas não é possível esconder-se da fúria com que a opinião pública trata aqueles que a enganam duas vezes. Torres é um caso assim e vai ser muito mais por ter mentido para o público do que pelas suas traficâncias que certamente perderá seu mandato.

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