domingo, 1 de abril de 2012

Ninguém é insubstituível?


Já ouvi por diversas vezes o seguinte comentário de jovens que nasceram na década de 1980: o meu pai e o meu tio sempre acham que os da geração deles é que são melhores e que tão cedo aparecerão outros iguais. E eles se referem a intelectuais, inventores, escritores e outras tais “celebridades” do mundo fashion. Não que eu tenha argumentos para “digladiar” com esta geração uma vez que nasci nos anos 1960 e vivi plenamente as décadas seguintes – 1970 e 1980- e que a juventude atual não admite uma escassez tremenda em todos os ramos da sociedade de “substitutos” que possam superar.

Gostaria de saber se já surgiu alguém que substitua um Beethoven, Mozart e Bach, sinfonicamente falando? Um Picasso, Van Gogh, coloridamente pensando? Um Cervantes ou Dostoievsky com suas linhas e entrelinhas de arrepiar? Se bem que não se faz mais hoje o que estes gênios deixaram de legado. Para não ser mais extenso hoje apenas aplica-se o que Galileu Galilei, Isaac Newton e Albert Einstein descobriram e/ou inventaram, com suas fórmulas mágicas. Assistindo uma entrevista com o escritor Ariano Suassuna, ele foi categórico em afirmar que há uma desaculturação/desaculturameto em todos os sentidos e que não é de hoje. Está se desvirtuando o belo, o intelectual, a genialidade das sociedades num total desserviço às pessoas já tão carentes de cultura.

Na Rede Brasil aos domingos há um programa de entrevistas do qual sou assíduo: Conexão Roberto D’Avila. Numa dessas entrevistas ouvi o cantor e compositor Raimundo Fagner dizer que hoje se faz “som” em vez de música, para tristeza e sofrimento dos nossos tímpanos. É valorizada mais a batida – para não dizerpoluição sonora -, que a melodia. E por falar em música perdemos Vando e Peri Ribeiro; Amy Winehouse e Whitney Houston, Marciano (da dupla sertaneja João Mineiro), sem falar no carnavalesco Joãosinho Trinta e mais recentemente Anísio, o Chico mais humorístico que se tem notícia. Quando aparecerão outros para substituí-los? Já “tentaram” mas não conseguiram outro Ayrton Senna do Brasil.

Todos esses talentos marcaram a história fazendo o que gostam e o que sabem fazer bem, ou seja, fizeram seu talento brilhar. E, portanto, são sim, insubstituíveis. Pena que o reconhecimento e/ou homenagem venham depois, muito depois, mas isto é outra história da hipócrita e vulnerável natureza humana. Cada ser humano tem sua contribuição a dar e seu talento direcionado para alguma coisa. E por falar em prêmios e reconhecimento muitos receberam tal “honraria”, mais por marketing que por razões óbvias. O Nobel deveria ser entregue a todos que realmente contribuíram de forma eficiente e verdadeira. A Academia de Hollywood já concedeu o Nobel postumamente.

Enfim, nunca é tarde para rever conceitos. Não só dar a Cesar o que é de Cesar, mas dar a Garrincha o que é de Garrincha, apesar de suas pernas tortas; dar a Kennedy o que é de Kennedy, apesar do seu egocentrismo; dar a Patativa do Assaré o que é de Patativa do Assaré, apesar da sua pouca permanência em banco de escola e não dar ouvido a candidatos (as) a celebridades que apenas tem o descabido argumento de dizer: sabe com quem está falando? Estes, sim, são substituíveis.




JOSÉ GREGÓRIO DA S. JÚNIOR
FUNCIONÁRIO PÚBLICO FEDERAL/ESCRITOR.

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