domingo, 1 de abril de 2012

A indiferença


Já virou clichê a frase “Ninguém pode lhe magoar sem o seu consentimento”. É mais fácil dito do que feito, mas a prática da serenidade pode gerar resultados surpreendentes. Coisas que antes seriam motivo para ressentimento se tornam irrelevantes. Pra que se estressar com a decisão dos outros? Se alguém fez algo a você que te magoou, experimente ignorar.

Corte o mal pela raiz através da indiferença. Não permita que decisões de terceiros afetem o seu humor utilizando a velha máxima de Cícero: “A minha consciência tem mais peso pra mim do que a opinião do mundo inteiro”. Se respeite o suficiente para ter o autocontrole de não depender de um elogio para saber o seu valor. O sonho de alguns será te ver rendido ao ressentimento ou quebrado diante da crítica. Mas entenda que a infâmia muitas vezes é o único relento para a insegurança do fraco. E o difamador apenas
exalta a sua necessidade de destruir para sobressair.

A indiferença é muito mais poderosa que qualquer contra-ataque ou mágoa. Ela transforma o veneno em água. “Eu acho que te magoa saber que você me fez sofrer. Você gostaria de não tê-lo feito. E, entretanto, há algo que o assusta ainda mais: o conhecimento de que eu não sofri em absoluto”. Taí um ideal para ser perseguido. Terá mais paz e serenidade aquele que conseguir dominar o poder da indiferença através da autoestima”.

Eu fiz questão de começar essa nossa conversa de hoje com as sábias palavras da jornalista e escritora Lya Luft para poder homenagear um grande amigo meu, mas amigo mesmo, daqueles como diz o velho Roberto Carlos “o amigo certo das horas incertas”. Estou falando do cantor pernambucano Limarcos, aquele que fez sucesso no Brasil na década de 80 com a música chamada ‘Americana’. “Ela é americana, da América, do Sul”, lembra?

Pois é, esse cabra hoje é meu amigo número um. Sempre que pode e vem lançar seus trabalhos musicais em Teresina fica arranchado na minha casa. Hoje eu só devolvo o que ele e sua Belinha fizeram por mim no começo da minha carreira, quando eu chegava em Recife para gravar meus primeiros discos, mais liso do que baba de quiabo.

Sou muito grato a ele, não pela ajuda material recebida, sei que foi importante, mas foi a espiritual que marcou e mudou minha cabeça.

Eu era um cara muito rancoroso e colecionador de mágoas. Qualquer crítica, por mais insignificante que fosse, causava em mim um efeito devastador. Aquilo me deixava de facão em punho para o mundo. Naquele tempo eu dedicava mais horas remoendo ódios, mágoas, ressentimentos do que com a construção do meu trabalho. Numa das nossas conversas ele me disse: “Meu cantor, guardar mágoa e cultivar rancor dentro do peito é como tomar um veneno e esperar que os outros morram. Temos que deixar essa gente
nas mãos de Deus. Temos que presentear gente maldosa é com o rosto alegre da nossa indiferença. Não embale a rede daqueles que sonham em te ver no chão, não ajeite a cama daqueles que dormem e acordam pensando em te ferir. A nossa serenidade provoca uma grande tormenta na alma do difamador”.

Pois é, a sabedoria de Deus me fez prestar atenção nas palavras do meu amigo Limarcos a tal ponto que, ainda hoje, trinta e tantos anos depois, guardo, uso e repito as suas palavras. Sempre que surge uma oportunidade falo pela boca do mundo pra ver o efeito que faz. Não esqueça amigo: as pessoas que falam da gente é que estão com um grande problema: a nossa indiferença. Valeu, velho Li.




LÁZARO DO PIAUÍ
ESCRITOR

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