segunda-feira, 2 de abril de 2012

A hora e a vez dos pequenos...


Tem se discutido muito as soluções previstas e recomendadas pelas ciências agronômicas para alavancar caminhos que aumentem a produtividade das lavouras brasileiras de modo a permitir que o Brasil consiga atender ao desafio proposto pela FAO/ONU de dobrarmos nossa produção agropecuária, verificando-se com isso a extrema importância do nosso país no contexto do abastecimento mundial num futuro bem próximo. Nessas discussões um ponto em comum destacou-se entre pesquisadores de todas as partes do mundo: falta difusão de tecnologias, incluindo a biotecnologia, entre os pequenos agricultores do mundo.

Em nosso país esse fato é alarmante. Enquanto a agricultura empresarial produz, em média, 8.000 quilos de milho por hectare, a agricultura familiar produz 1.800 quilos, mesmas diferenças são constatadas nas lavouras de arroz, feijão, mandioca e em praticamente todos os produtos de necessidades básicas. Isso se dá simplesmente pelo fato de não ter acesso a tecnologias que permitam sua sobrevivência. Em nosso Estado esses números são ainda mais perversos.

Enquanto na região do Cerrado os índices de produtividade são mantidos, mesmo com dificuldades climáticas, no semiárido, onde predomina a agricultura familiar, perdeu-se quase toda a plantação, causando danos irreparáveis às condições econômicas e principalmente sociais daquela população.

Para se ter uma ideia no Piauí, nessa safra 2011/2012, foram plantados 580 mil hectares de grãos pela agricultura empresarial, prevendo uma safra de 2 milhões de toneladas, e 680 mil hectares pela familiar, com expectativa de produção menor que 400 mil toneladas. Vejam a importância e a dimensão dessa atividade de pequenos produtores que ainda hoje detêm mais de 70% do espaço produtivo brasileiro. Um pouco de atenção a esse setor da agricultura provocaria um “efeito cascata” de melhoria nas condições de saúde, poder aquisitivo, educação e, principalmente, na dignidade das pessoas que não mais dependeriam de benefícios que hoje se tornaram rotina nas suas vidas, e em contrapartida estaríamos lutando contra a maior
tragédia anunciada na atualidade: “Desabastecimento Mundial”, quando só os povos ricos terão acesso a alimentação, cada vez mais cara.

Está na hora de pensar em reativar programas com o Grupo 4S (Saúde para Sentir, Saber para Servir) ou o Projeto Rondon, que tiveram amplo sucesso nas décadas de 1960 a 1980, e consistia na participação de universitários em final de cursos de ciências rurais de todas as universidades publicas do país, levando os conhecimentos adquiridos para as mais remotas comunidades do Brasil; com certeza os mais velhos se lembram disso. Sem dúvida a reestruturação da assistência técnica através das Emater também seria de grande valia.

Precisamos entender que todos merecem uma oportunidade de crescer, realizar sonhos, prosperar, desenvolver econômica e socialmente, melhorar suas perspectivas de futuro e, com certeza, através do conhecimento é que esses sonhos se tornam realidade. Todos nós sonhamos com um mundo melhor, sem fome, mais ajustado socialmente e de oportunidades para todos. E o melhor caminho para isso é pela agricultura forte em todos os níveis sociais do nosso país e do mundo. Não temos tempo a perder. A hora é agora.




SÉRGIO BORTOLOZZO
VICE-PRESIDENTE DA FAEPI E ABRAMILHO

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